sábado, 20 de dezembro de 2008

Barbara

Boa noite, leitores. Felizmente temos cumprido o objectivo a que nos propusemos quando iniciámos este blog, que é o de manter a regularidade com que o temos vindo a actualizar, quase semana a semana, sempre com excertos de canções que nos mostrem o lado mais camaleónico de José Cid, sem nunca descuidar a opção por temas menos conhecidos do público em geral.
Para esta semana escolhemos, pela primeira vez, um tema de José Cid cantado em inglês. Pese embora José Cid, já desde os anos 60 ( com o Quarteto 1111) e 70 ( com os Greenwindows), grave temas em inglês e tenha, inclusive, um maravilhoso disco a solo gravado totalmente em inglês na década de 80 (“ My Music” - Orfeu FPAT 6009) – para quando a edição em CD ?- decidimos escolher o tema de José Cid cantado em inglês que talvez revele melhor a sua dimensão camaleónica.
Aqui fica o tema “ Barbara”, com letra e música de José Cid e orquestração de Mike Seargent, lado B do super êxito “ Um grande, grande amor" ( Orfeu YSAT 5100 -.” (canção concorrente ao festival Eurovisão da Canção de 1980). Trata-se de uma bela canção Pop Disco Sound, capaz de animar ainda hoje os bailes de liceu. Sem dúvida, que quem não conhecer o tema ficará surpreendido....
Sobre a letra da canção parece não haver muito a dizer: Não vamos falar muito de Barbara... por quem José Cid tanto chama no excerto da canção que hoje deixamos à consideração do leitor... Também nós queremos chamar por Barbara, e também nós sentimos a sua falta... embora num cenário não tão festivaleiro como este que José Cid nos oferece para falar sobre um tema de solidão e de posterior reencontro.

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Imagens reproduzidas da colecção particular do autor

sábado, 13 de dezembro de 2008

Milho Verde

Continuamos a querer surpreender quem, por acaso, nos leia. Na mensagem de hoje, em vez de sermos nós a homenagear directamente o artista José Cid, deixamos antes um registo de uma homenagem que o próprio José Cid fez à música de raiz popular portuguesa, através de uma abordagem excepcional de um dos temas mais conhecidos do cancioneiro popular português: Milho Verde. Quem não conhece? Certamente já todos nós demos por nós a cantar esta famosa melodia, popularizada por José Afonso no seu mítico albúm “Cantigas do Maio” de 1971. O que nem todos conhecerão, certamente, é o encontro informal entre o nosso cancioneiro popular e o jazz que José Cid nos oferece no seu disco de 1998 e, mais concretamente, na sua peculiar versão dessa canção..
Com o disco “Cais do Sodré" ( BMG 1998), todo ele gravado ao primeiro take ( tal como um verdadeiro disco de jazz assim o impõe), José Cid, mostra melhor do que em qualquer um outro disco, o verdadeiro gosto que tem em improvisar as suas canções enquanto canta.
Tal como refere na contracapa do seu disco de 1987 (“Fado de Sempre”), o fado e o jazz são as duas formas que José Cid mais gosta de abordar pela sua simplicidade, pureza e também, claro está, pela forma como esses dois géneros musicais conduzem o intérprete ao improviso. Pois bem, no tema que hoje partilhamos com o leitor, podemos encontrar um tema tradicional vestido com uma roupagem de jazz, mas sem nunca perder de vista a estrutura da canção original e sem desrespeitar a sua primitiva génese. Aliás, a própria flauta que acompanha os devaneios vocais de José Cid neste tema também ela transporta o ouvinte para o imaginário dos campos de “verdes trigais em flor” e do universo campestre.
Após a audição deste tema, um melómano mais versátil tanto poderá decidir ouvir logo a seguir um disco do Grupo de Folclore do Rochão ou um disco da orquestra de jazz Count Basie, que ficará sempre satisfeito. Da nossa parte, sugerimos em primeiro lugar, a audição do pequeno excerto do tema que colocamos à disposição do leitor, e posteriormente a audição da totalidade deste disco de jazz de José Cid, no qual o Artista assina um dos seus melhores registos vocais de sempre.
Por fim, resta-nos realçar que não é fácil fazer uma versão de um tema original e muito menos de um tema do universo popular de um povo, com todo o simbolismo geracional que as canções populares trazem consigo. Entendemos, numa opinião modesta, que para versionar um tema jamais se poderá cair no ponto do irreconhecível. Deve ser sim, aquilo que o Artista tão bem soube fazer neste tema: vestir o nú da canção sem a mudar de cor. Na nossa opinião, este tema é simplesmente fabuloso e a verdadeira prova de que D. Camaleão é também ele um verdadeiro improvisador.


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Imagens reproduzidas da colecção particular do autor do blogue

domingo, 7 de dezembro de 2008

Gabriela Cravo e Canela

E estamos de regresso… com o objectivo de revelar um pouco mais do lado menos conhecido de José Cid, não fosse a canção escolhida para hoje pertencente a um dos discos mais raros e procurados da música popular portuguesa. Referimo-nos ao primeiro disco a solo de José Cid, simplesmente “José Cid” (Columbia/VC, 1971) 8E 062 – 40228), também conhecido como o “álbum da Palha” ( assim designado devido ao facto de na capa do disco José Cid aparecer vestido de palha).
Temos consciência de que muitos leitores nos acusarão de sermos muito repetitivos e de batermos constantemente na mesma tecla. No entanto, também não podemos deixar de referir novamente que José Cid no seu primeiro disco a solo não deixou de primar também pela inovação e novidade: conforme o próprio Artista refere em entrevista recente, quando apareceram as máquinas de gravação de oito pistas José Cid foi desde logo o primeiro músico a utilizá-las, tendo, inclusivé, gravado o álbum sozinho, tocando os instrumentos todos (órgão, baixo, guitarras e pianos) incluindo os coros. Quando o disco já estava pronto, na Valentim de Carvalho, Pedro Osório ouviu o trabalho e disse que queria colocar ainda um arranjo de orquestra nas canções, chegando-se assim ao resultado final do disco.
Quando “Palha” saiu para o mercado em Maio de 1971, José Cid era já a figura dominante do Quarteto 1111, tendo este disco seguido em parte a linha do primeiro albúm do Quarteto, editado um ano antes, em Janeiro de 1970. Contudo, simultaneamente, já se nota neste primeiro disco a solo de José uma certa dualidade musical, ou se quiserem, um toque de diferença em relação às anteriores canções do Quarteto. Musicalmente falando, podemos arriscar em dizer que este disco segue duas vertentes: uma vertente mais popular, numa onda de folk music, e uma vertente de experimentalismo com a utilização de sons electro-acústicos, em temas como “Lisboa Ano 3000” ou “ Olá Vampiro Bom” no qual José Cid utiliza muito o órgão eléctrico para explorar efeitos sonoros (e de onde se encontra já alguma reminiscência de algum rock espacial, mais tarde tão bem explorado no álbum “10000 mil anos depois entre Vénus e Marte”).
Cinco dos temas que compõem este disco podem ser encontrados na colectânea da Valentim de Carvalho “ O melhor de José Cid”. No entanto, os restantes 7 continuam por ver a luz do dia em edição de CD, facto que tem alimentado a procura e a especulação de preços de venda do álbum original em vinil “Palha” em leilões e sites especializados de música. Da nossa parte, e porque nos parece justo para quem não conheça, iremos deixar aqui um excerto de um dos temas menos conhecidos do disco: Gabriela, Cravo e Canela, inspirado na obra de Jorge Amado.
Ironicamente, pese embora o romance de Jorge Amado já fosse um sucesso há décadas ao tempo em que José Cid compôs esse tema, não deixa de ser também interessante referir que já em 1971, muitos anos antes da exibição da telenovela com o mesmo nome em Portugal (que em muito contribuiu para a leitura posterior do livro) José Cid canta sobre um romance que só mais tarde é que vem a ser (re)conhecido em Portugal. ( Não se passa o mesmo com José Cid ?)
Não nos iremos alongar na abordagem da canção escolhida para hoje. O refrão e a entoação que José Cid dá ao mesmo são apaixonantes e o resumo da história de Gabriela é desde logo anunciado nos primeiros segundos do tema : “Oh! que fizeste, sultão, da minha alegre menina? é a pergunta repetida mais do que uma vez por José Cid nesta canção. Gabriela retirada da sua pobre terra natal para, por fim, conhecer toda a riqueza, os vestidos de diamantes, o estatuto de rainha, em troca da ilusão do amor sendo,mais tarde,devolvida à sua terra, de volta aos seus vestidos de chita e ao seu inocente pensar, aos seus suspiros no leito e à sua ânsia de amar, longe das jóias e das ilusões do trono em que viveu. A conclusão do tema é bem clara: Jorge Amado é que tinha razão: apesar de tudo o que tentaram fazer de Gabriela, o certo é que, como conclui José Cid: A verdadeira Gabriela, é feita de cravo e canela !
Aqui fica um (grande) excerto da canção, retirada directamente do vinil.
(Obrigado, José Mário! )




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Capa do disco retirada da colecção particular do autor