quarta-feira, 1 de abril de 2015

Quarteto 1111 lança obra integral com duplo Cd de inéditos

Interrompemos o longo interregno do nosso blog ( que apesar de moribundo ainda não morreu) para dar aos fans do José Cid e em particular do Quarteto 1111, uma notícia que por certo muitos esperavam: a reedição completa em formato CD de toda a obra do Quarteto 1111, com a inclusão de um CD duplo de inéditos.

Com edição prevista apenas para 18 Outubro de 2015, o lançamento será em formato Box Set.  Para além de reunir os dois álbuns de estúdio, reunirá todos os os singles e EP's gravados pela banda e música inédita. Dos temas inéditos, para além dos muito aguardados temas da banda sonora do filme " O Cerco", a caixa reunirá ainda algumas curiosas gravações do Quarteto que haviam sido ouvidas primeiramente na voz de outros artistas, como José Cheta, Manuel Vargas e até da sua ex-mulher, entre outros.

O nosso blogue teve acesso ao alinhamento do CD de inéditos, que revelamos em primeira mão.

  1. O arauto do rei
  2. Terra de ninguém
  3. A vida é um carrossel
  4. Stop, you're knocking me out
  5. Emporte moi loin d' ici
  6. As minas de ouro
  7. Julguei que era donzela
  8. Quando as acácias floriram
  9. Life is too short
  10. Os conquistadores
  11. As quimeras do Além
  12. O mundo ao contrário
  13. Fantasma papão
  14. Planeta de girafas
  15. A caixa de lápis azuis
  16. La mansarde
  17. O comboio
  18. Serenata rock
  19. La derniere valse
  20. Escravidão

Desconhecemos se a referida caixa, terá continuidade, pois segundo nos informou uma responsável pela editora, existe material gravado em formato filme que está a ser objecto de restauro mas que se encontra muito danificado, por "circunstâncias estranhas"

Logo que tenhamos mais notícias, informaremos.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

José Cid no Rock in Rio - Esclarecimento

Afinal era mentira... O dia 1 de Abril tem destas coisas.... Talvez para o ano seja verdade...

terça-feira, 1 de abril de 2014

José Cid e Bruce Springsteen confirmados no Rock in Rio !

Interrompemos um longo interregno neste blogue ( que ainda não está morto) para anunciar o que muitos pensariam ser impossível há apenas alguns anos atrás: José Cid, depois de Vilar de Mouros e de Tokyo nos anos 70, está de volta aos grandes palcos e Festivais. Fonte próxima da organização garantiu a presença de José Cid, o monstro sagrado do Rock português, na presente edição do Rock in Rio 2014, festival que para muitos é considerado o maior e o mais importante do mundo. 
A actuação ocorrerá no dia 23 de Maio de 2014, no mesmo dia em que o norte americano Bruce Springsteen voltará a Portugal com a sua E Street Band, volvidos apenas dois anos depois da última presença. Desta forma, o Rock in Rio 2014, contará com um cartaz de luxo, onde estão já confirmados bandas como os Rolling Stones ou Arcade Fire, entre outros.
José Cid, que se encontra a ensaiar para os espectáculos especiais sobre o álbum “ 10.000 anos depois entre Vénus e Marte” já garantiu que dará no Rock in Rio um concerto especial, mais centrado na sua vertente rockeira, com muito poucas baladas, fazendo um incursão pela obra do Quarteto 1111 e tocando vários temas de rock sinfónico. Como convidados especiais, subirão ao palco Ramon Galarza, Zé Nabo e ainda os membros originais do Quarteto 1111, incluindo António Moniz Pereira, que regressará aos palcos mais de 40 anos depois da última actuação. Por confirmar ainda está o tempo reservado à actuação de José Cid, não se sabendo ainda se tocará em primeiro lugar ou se antecederá o cabeça de cartaz que será, naturalmente, Bruce Springsteen que de resto já reservou o palco para quatro horas.
Por confirmar está também ainda a outra banda ( ou bandas) que actuarão nessa noite, não sendo de excluir a possibilidade de essa noite ser iniciada com uma mini actuação da fadista Gisela João, ao que conseguimos apurar. No entanto, certo é que tal não passa de mera especulação. Para já o que se sabe com a certeza que se exige é só mesmo a confirmação de José Cid no Rock in Rio. Brevemente, talvez no dia de amanhã, anunciaremos mais novidades.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Cravo e Canela - A minha música

Conforme já referimos na mensagem anterior, com o decorrer do tempo a canção " A minha música" transformou-se numa das canções mais conhecidas de José Cid, principalmente devido ao seu refrão, a que todos os músicos de longa carreira não podem ser indiferentes.Embora não tenha sido um tema de sucesso imediato, tal como foi, por exemplo, " Vinte Anos" ou " Na cabana junto à praia", " A minha música" pertence já à galeria de canções de José Cid que acabaram por ser constantemente alvo de versões por quase todas as bandas de covers portuguesas bem como por artistas que se aventuram a gravar em estúdio a sua própria interpretação do tema ainda que de acordo com o estilo de cada um.
Foi o que aconteceu igualmente com um duo feminino muito pouco conhecido que descobrimos recentemente num mercado regional, mais precisamente na tenda dos CDs e das cassetes (lembram-se delas?) de música dita popular. Falamos de Cravo e Canela, duas jovens lançadas pela Editora Vidisco, que no seu CD de estreia interpretam à sua maneira uma versão do tema " A minha música" de José Cid, com arranjos de Páquito.
No nosso blogue não nos compete especialmente discorrer sobre outros artistas mas, diga-se, mesmo que fosse nossa intenção sempre esbarraríamos na pouca informação existente acerca deste duo na internet, embora se encontrem com algum facilidade vídeos no youtube e até uma página pessoal no facebook. Para nós, o que realmente nos apraz salientar é mais uma versão de um tema de José Cid,com recurso a uma programação rítmico muito disco-sound, para não destoar radicalmente do resto do álbum, quase todo composto por versões bem conhecidos de cantores portugueses, tais como Paulo Gonzo, Dina, Heróis do Mar, etc.
Fica aqui, portanto, mais uma curiosidade referente à vasta obra de José Cid. Voltaremos em breve com mais versões.





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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A minha música

Sem querer deixar para segundo plano outras canções com a mesma índole, como por exemplo "Epitáfio" ou o " O poeta, o pintor e o músico", podemos afirmar que a letra da canção " A minha música" ( ainda que com alguma dose de fantasia mas com muito de verdadeiro à mistura)é, sem qualquer dúvida, a mais auto-biográfica de todas as canções que José Cid lançou até à presente data. Sobre isso parece não existir qualquer espécie de discussão. Em pleno auge do disco sound, José Cid, socorrendo-se de notórias influências da sonoridade "disco rock" e numa correria desenfreada, através de quase 5 minutos de música, aborda quase todas as fases da sua existência enquanto homem e enquanto músico, percorrendo os tempos da infância até ao sucesso obtido com/e após o Quarteto 1111.
De facto, pouco muito haverá a discorrer sobre esta canção pois bastará atentar para a sua letra directa e objectiva para percebermos que desde pequenino José Cid sempre foi, por causa do seu gosto da música, um rebelde pouco interessado nos estudos uma vez que a sua grande paixão era ( e continua a ser ) a música. Duvidas não assim não restam que bem andou José Cid ao recusar colocar a gravata para ser um engenheiro ou doutor, conforme era desejo de seu pai. Bem pelo contrário; o tempo viria a provar que a verdadeira vocação de José Cid era verdadeiramente a música, tendo-se tornado, como se sabe, um dos músicos com mais sucesso registado em Portugal de todos os tempos.
Por outro lado de " A minha música", lançada em 1978 em formato single ( Orfeu Ksat 646) evidencia-se ainda um refrão que progressivamente ao longo dos tempos se tornou um dos mais conhecidos de toda a sua discografia," Nasci para a Música", que por sinal dá nome à dupla colectânea lançada em 2003 pela Movieplay com o mesmo nome.
Para além da dupla colectânea supra referida, poderemos encontrar esta canção no duplo CD " Pop Rock & Vice-Versa", no duplo LP " Os Grandes, Grande Exitos de José Cid" e no CD " Ao vivo no Campo Pequeno"


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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

História verdadeira de natal

Gostaríamos de acreditar que o Natal fosse verdadeiramente todos os dias. Gostaríamos de assistir todos os dias à união das famílias, num clima de verdadeira fraternidade contagiante e universal ao ponto de esta ultrapassar as paredes dos lares e se repercutir em todos os povos, para que terminassem as guerras e o sofrimento das gentes inocentes. Em contrapartida, assistimos a mais um Natal que se celebra todos os anos e não todos os dias, com os valores da paz, da família e da comunhão a ele inerentes a ecoarem por todos os cantos do Mundo apenas durante as últimas semanas do Ano. Todos os anos, por esta altura se multiplicam os apelos à solidariedade, ao amor, à família, fazendo a todos crer, ainda que durante apenas dois ou três dias, que somos todos irmãos e que à nossa volta não existe inveja, nem ciumes um dos outros. Mas será mesmo assim ? Será essa a história verdadeira de Natal ?
Cremos que não. Enquanto uns celebram nas suas casas a união da família e a paz, outros tantos continuam a viver em bairros da lata totalmente desamparados ou com a guerra a bater-lhes à porta. Para esses, o Natal não passa de uma ilusão ou, quanto muito, de uma mera miragem. Para esses não há Natal. E para essas mães que alimentam os filhos com o sofrimento de todos os dias, o Natal é apenas um sonho que por elas passa ao lado durante.
A tal facto não foi também indiferente José Cid, que pegando num poema de Natália Correia com o título de " História Verdadeira de Natal" ( que ainda hoje se mantêm actual ) depois de musicá-lo, grava-o para o seu o seu segundo E.P. a solo para a Valentim de Carvalho, o qual veio a ser lançado para o mercado com o mesmo nome em 1972.
Musicalmente trata-se de um E.P. bastante variado embora seguindo a mesma linha melódica do primeiro E.P., no qual José Cid toca todos os instrumentos, tal qual homem dos sete instrumentos ( piano, cravo, viola, órgão, flauta, baixo e bateria). Sobre a canção que hoje nos prende a atenção, destacamos a própria presença de Natália Correia, que declama parte do poema, já na parte final da canção. Não olvidaremos ainda a influência de Natália Correia na obra discográfica de José Cid, a quem José Cid acabou por recorrer por diversas vezes ao longo da sua carreira, musicando muitos dos seus poemas
"História Verdadeira de Natal", para além do poder ser encontrada no E.P. ( Columbia 8E 016-40162 ), pode também ser encontrada, com excelente qualidade musical no recente CD compilação de 2008 lançada pela Valentim de Carvalho" O melhor de José Cid" e numa colectânea de 2006 ( com pior qualidade sonora) " Os grandes Êxitos de José Cid...", para além do LP de 1990 " O melhor de José Cid".



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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

André Luiz - Portuguesa Bonita

Por mais do que uma vez, as músicas de José Cid foram versionadas por artistas do outro lado do Atlântico, nomeadamente por artistas brasileiros ( lembramo-nos por exemplo da conhecida Joanna ou de um menos conhecido Sá Morais). Sobre essas versões um dia nos debruçaremos. Contudo, para já, deixamos um interessante registo de um artista que também nós, tal como o título do seu L.P. assim o sugere, apelidamos de um artista português-brasileiro. ( É que contrariamente ao que se pensa, Roberto Leal e Cármen Miranda não foram os únicos artistas "portugueses-brasileiros" que Portugal viu nascer e a fazer sucesso sucesso em terras de Vera Cruz ). Estamo-nos a referir ao cantor André Luiz que, embora não tenha obtido o sucesso daqueles últimos, ousou fazer a sua carreira no Brasil, enquanto emigrante.
Sobre o percurso musical de André Luiz, confessamos nada saber, pelo que nada mais nos resta senão o recurso à pequena biografia constante na contracapa do seu terceiro L.P, para podermos apresentar este artista aos leitores. Confessamos igualmente que, não fosse o facto de André Luiz ter cantado também ele a canção "Portuguesa Bonita" de José Cid, provavelmente jamais iríamos adquirir este disco, tendo em consta os géneros musicais que apreciamos e que se afastam de alguma forma do registo espelhado no disco que hoje damos a conhecer.
Recorrendo então à parca informação de que dispomos, adiantamos que André Luiz, português, chegou ao Rio de Janeiro em 1977, tendo gravado o seu primeiro disco em 1981 e o segundo disco no ano imediatamente a seguir. Cantando sempre canções portuguesas, gravou em 1984 o seu terceiro disco ( que hoje apresentamos) incorporando no mesmo versões registos musicais que em Portugal fizeram grande sucesso, como por exemplo, " Eu tenho dois amores" ( popularizado por Marco Paulo" " Verde Vinho" ( por Paulo Alexandre ) e, no caso a canção que mais nos prende o interesse, "Portuguesa Bonita" de um tal José Cid.
Sem mais rodeios, porque nada mais podemos dizer, deixamos para os ouvintes ( por certo curiosos )um excerto da versão "portuguesa-brasileira" de Portuguesa Bonita, interpretada por este agora desconhecido cantor português-brasileiro, na qual não deixa de ser curioso o cruzamento de vozes portuguesas e brasileiras ( pelo menos na parte da refrão) acentuando ainda mais o carácter bipolar deste disco.




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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Portuguesa Bonita

Sendo o Mundo cada vez mais uma aldeia global e encontrando-se a Europa praticamente livre de fronteiras entre cada Estado membro, é natural que pessoas de diversas nacionalidades cruzem entre si as mais diversas experiências, sejam elas de âmbito comercial, cultural ou até sentimental. Também nós, ao longo destes últimos anos, temos privado com pessoas das mais diversas nacionalidades, facto que, no contexto sócio-cultural e transfronteiriço em que nos encontramos, passou a ser visto como algo perfeitamente natural. Por tal razão, podemos dizer que conhecemos já, ainda que a maior parte das vezes através de meras conversas de circunstância pessoas de diferentes nacionalidades, incluindo, também mulheres de diversas proveniências.
Nesse campo em específico, diremos desde já que, como é evidente, nunca uma pequena parte poderá representar a realidade inerente a um todo. No entanto, sem recorrer a qualquer sentido nacionalista ou patriótico, não temos qualquer dúvida em considerar que a mulher portuguesa é uma mulher ( muito ) bonita sendo, por nós considerada, como a mais bonita de todas as mulheres. Todavia, não nos iremos debruçar aqui neste blogue sobre as qualidades ou atributos da mulher portuguesa pois este espaço tem como principal objecto a música de José Cid.
Saiba o leitor que as considerações que antecederam não foram lançadas ao acaso para este espaço. É que de facto, as mesmas servem para relembrar aos nossos leitores ( "relembrar" pois quase toda a gente conhece esta canção) que, em 1983, também José Cid prestou uma homenagem a todas as mulheres portuguesas, quando, nessa data, lançou para o mercado um single que fez enorme sucesso contendo do lado A a canção " Portuguesa Bonita", a qual viria a ser juntamente com " Como o macaco gosta de banana" provavelmente o seu maior sucesso dos anos 80. Curiosamente, "Portuguesa Bonita", tem na sua história um facto raro até então na carreira de José Cid: trata-se de uma canção em que apenas a letra cabe a José Cid, sendo que a letra cabe a um certo Algarra, de cujos dados e proveniência sinceramente desconhecemos. No entanto, o que nos apraz realçar neste tema, é sobretudo a letra da mesma o recurso a uma sonoridade muito popular, com arranjos musicais muito apropriados à letra e alegria que a canção pretendia transmitir ao ouvir: a exaltação da mulher portuguesa. Relativamente, à letra da canção, para finalizarmos destacaremos o seguinte verso, com o qual concordamos totalmente. " Sou saltimbanco vou pelo mundo fora e a todas levo mais um sonho uma quimera/ Já corri mundo mas fiquei com a certeza/ que a mais bela é a mulher portuguesa".
Deixamos aqui um excerto de Portuguesa Bonita, que pode ser encontrada igualmente nos seguintes discos e cds: "Portuguesa Bonita " ( L.P.) e "Antologia Nasci para a Música "( 2 CD)







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domingo, 30 de outubro de 2011

Amanhã, Amanhã - Conjunto Mota e Costa

Conforme já referimos algures neste blogue, sendo José Cid um dos artistas mais reconhecidos no panorama musical português, foi com naturalidade que ao longo de mais de 40 anos de carreira discográfica as suas músicas têm sido sendo reinterpretadas por outros artistas, nos mais diversos estilos musicais, desde a música ligeira, rock, fado ( incluindo o humorístico), jazz e musica popular, como por exemplo o acordeão e até conjuntos típicos.
Tendo tal facto em mente a partir de hoje tentaremos, sempre que possível, intercalar uma mensagem referente a uma canção de José Cid, cantada pelo próprio José Cid com uma outra mensagem referente a versões dessa mesma canção gravadas e interpretadas posteriormente por outros artistas.
Começamos hoje com uma primeira alusão a uma versão de uma canção de José Cid interpretada por um conjunto típico: Referimo-nos ao tema "Amanhã, Amanhã", interpretado pelo Conjunto Mota e Costa, gravado para a Editora Roda em 1973 ( Roda RPE 1215) tendo como cantador António Teixeira. Naturalmente não temos muitas considerações a tecer sobre a versão deste tema, uma vez que a mesma em si mesmo não é surpreendente na medida em que segue a linha musical normal que o Conjunto Mota e Costa seguia na altura, embora, o Conjunto Mota e Costa não fosse tecnicamente um conjunto típico na medida em que se socorria de uma instrumentalização por vezes bem diversa dos genuínos conjuntos típicos da altura.
Seja como for, de todas as versões que conhecemos do tema "Amanhã, Amanhã "de José Cid, esta versão, sem dúvida, a que mais nos transporta para um estilo radicalmente diferente da versão original, permitindo-nos assim destacar a versatilidade que próprias canções podem revestir ( sejam de José Cid, sejam de outros artistas). Por essa razão, mais por curiosidade, do que por outra coisa, deixamos aos nossos leitores um excerto da canção, com a promessa de que mais atempadamente voltaremos com novas versões.




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sábado, 8 de outubro de 2011

Amanhã, Amanhã

Independentemente das divergências sobre a qualidade da música que José Cid gravou para a Editora Orfeu, a verdade é que foi para esta editora que José Cid alcançou os seus grandes sucessos através da edição quase que sucessiva de discos de ouro e de platina. A única excepção parece ter sido, aquando da formação dos Green Windows, o single "Vinte anos" - gravação efectuada ainda durante os anos em que José Cid era um artista contratualmente ligado à Valentim de Carvalho ( sua primeira e única editora até então) - o qual perdura, até hoje, como o seu maior sucesso.

Só depois de ter vencido o Festival da R.T.P. da Canção em 1980 é que José Cid pode finalmente entrar para a galeria dos artistas que mais vendiam em Portugal e dos mais respeitados pelo público em geral. Tornava-se assim imperioso que a Editora Orfeu lançasse para o mercado uma colectânea com os maiores êxitos de José Cid numa estratégia comercial de sucesso quase que garantido à partida e, por outro lado, como factor de reconhecimento de um artista cuja música, até então, dividia ainda sectorialemente a opinião pública.

Não se estranhou assim que, num disco duplo de nome " Os grandes, grandes sucessos de José Cid", constassem todos os lados A's dos singles que José Cid tinha gravado para a Editora Orfeu desde 1976 até à data de lançamento do duplo L.P. e ainda alguns dos temas de um dos álbuns gravados em nome próprio durante esse período, " José Cid Canta Coisas Suas", tendo sido excluído do alinhamento dos grandes sucessos de José Cid todo e qualquer tema do álbum "10.000 anos depois entre Venus e Marte".

Contudo, o grande interesse desta colectânea de êxitos é o facto de a mesma não ter sido apenas um recompilatório da discografia de José Cid. Na verdade, a Editora aproveitou igualmente para juntar à colectânea uma versão do tema "Vinte Anos", gravado pela primeira vez em nome próprio por José Cid, bem como alguns temas originalmente da fase " Valentim Carvalho" regravados por José Cid para a Editora Orfeu e que viriam a ser incluídos também neste Duplo LP. Porém, nesta colectânea José Cid não se limitou a brindar os fãs com a regravação de alguns dos seus maiores sucessos uma vez que neste álbum aparecem pela primeira vez temas nunca antes ouvidos pelo público em geral, pertencendo, assim, tais canções à categoria de inéditos. Referimo-nos, por exemplo de "Gloria Gloria Aleluia" ( canção originalmente escrita para Tonicha, representante do Festival Ibero Luso-Americano de 1971 ) e "Amanhã, Amanhã", uma canção com letra e música de José Cid, gravada originalmente por José Cheta, em 1972, acompanhado pelo Quarteto 1111 ( ou pelo que restava dele).

Relativamente a esta última canção não podemos deixar de referir que se trata de um dos nossos temas preferidos de José Cid, em boa hora reaproveitado pois a sua interpretação suplanta, em muito, a interpretação quase que monocórdica de José Cheta gravada anos antes para a Valentim de Carvalho. Nesta interpretação, José Cid em plena força e capacidade vocal socorre-se de uma instrumentalização adequada a uma canção de esperança para aqueles, que por uma ou outra razão, se encontram desiludidos ou resignados com as contrariedades da vida. Trata-se, assumidamente, de uma canção dirigida provavelmente a um destinatário especial mas que, bem vistas as coisas, pode até ser qualquer um de nós quando ( ainda que momentaneamente) pensamos que da própria vida nada mais podemos esperar. Enganamo-nos, pois, claro. Há sempre que ter esperança no dia de amanhã e é isso que nos move para um futuro melhor.

Resta-nos a dúvida de saber se esta canção foi gravada ainda durante os anos em que José Cid estava contratualmente ligado à Valentim de Carvalho e cedida "gentilmente" por esta Editora para completar a colectânea ou se foi mesmo regravada à data do lançamento deste duplo disco com os músicos habituais de José Cid dessa altura ( Mike Sergeant, Ramón Galarza e Zé Nabo). Um dúvida que não conseguimos ver esclarecida até à publicação desta mensagem, desde já apelando aos conhecimentos dos mais entendidos nesta matéria.

"Amanhã, Amanhã", foi posteriormente versionada por outros artistas, encontrando-se a versão do próprio José Cid também disponível no duplo CD Antologia # 2.




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terça-feira, 26 de abril de 2011

Vivamos Nuestro Amor - Green Windows

Depois do extraordinário sucesso da versão portuguesa de Vinte Anos e do fracasso evidente da versão inglesa desse mesmo tema, a Editora voltou a tentar uma nova projecção internacional da banda, desta vez na vizinha Espanha, porta de saída para todos os demais países de expressão latina.
Assim, em 1974 José Cid gravou, juntamente com os Green Windows, para a Decca, a versão cantada em castelhano de "Vinte Anos", com o nome " Vivamos nuestro amor", num registo candidamente cantado e orquestralmente não muito diferente das primitivas versões embora com algumas nuances.
Contrariamente às versões inglesa e portuguesa, a capa do disco é radicalmente diferente, nela constando a foto em corpo completo dos elementos dos Green Windows. Também diferente das versões anteriores, é a escolha para lado B do single do tema "Imagens", em detrimento de "Uma nova maneira de encarar o mundo", por se tratar de uma tema comercialmente mais apelativo e por ter sido também canção concorrente ao Festival da Canção de 1974, classificada em terceiro lugar.
Depois da gravação desta canção, só anos mais tarde é que José Cid voltou a gravar canções em espanhol, na altura do lançamento do disco " Oda a Garcia Lorca". A versão cantada em castelhano de Vinte Anos, não teve igualmente qualquer sucesso em Portugal e além fronteiras. Desconhecemos mesmo se tal disco se limitou a ser meramente promocional ou se o mesmo foi lançado em série numa perspectiva comercial virada para o mercado discográfico. Sabemos, contudo, que " Vivamos Nuestro Amor" impressionou pela positiva diversos pesos pesados ligados à produção discográfica, incluindo aquele que era, na altura, a figura máxima da canção ligeira espanhola: Júlio Iglésias, claro está. Este ficou tão impressionado com a capacidade artística de José Cid que o terá convidado para ser seu compositor exclusivo, com as garantias de melhoria significativa da sua situação e sustento económica.
Contudo, José Cid, recusou tal convite uma vez que, atendendo ao seu próprio sucesso da altura, voos mais altos tinha planeado, os quais por uma ou outra razão de maior ou menor injustiça, acabaram por não se verificar fora do mercado português.





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sexta-feira, 22 de abril de 2011

GREEN WINDOWS - TWENTY YEARS - VERSÃO INGLESA

É ponto assente que 1971 foi musicalmente um dos anos mais importantes de história da música popular portuguesa. Para além de outros acontecimentos de relevo, foi este o ano do lançamento de alguns discos que marcaram um início de um novo rumo na música portuguesa, quase todos eles provenientes de cantores contestatários, numa vertente de assumida ruptura com o Nacional Cançonetismo.
Foi igualmente o ano em que decorreu em Portugal (depois de frustrada a organização do primeiro Festival de Rock Português em 1968, no Estoril,), o Festival de Vilar de Mouros, com a participação dos então grandes nomes da música portuguesa (do rock, mas não só, pois aquele tratou-se de um Festival artisticamente muito abrangente) e de alguns artistas estrangeiros, sendo os de mais renome o extravagante Elton John e os Manfred Mann.
Nesse alinhamento de concertos e de bandas (numa imitação em tamanho português ao Festival de Woodstock de 1969) actuaram alguns dos maiores nomes da música portuguesa, nomeadamente do pop-rock, que timidamente começavam a libertar-se do Yé-Yé. Desse elenco constavam nomes como os Pop Five Music Incorporated, Os Chincilas, Os Sindikato, Pentágono, Duo Ouro Negro, e, obviamente, o Quarteto 1111, que apesar de ser uma banda como músicas censuradas, acabou por participar no Festival de Vilar de Mouros. No entanto, por imposição de "entidade externa" o Quareto 1111 durante as actuações nesse festival, acabou por cantar quase todas as músicas em inglês, tendo mesmo iniciado o primeiro concerto com um tema de Janis Joplin ( Move over).
O Festival de Vilar de Mouros acabou por ser na carreia de José Cid ( e do Quarteto 1111), o passo natural para o surgimento mais tarde dos Green Windows, grupo liderado por José Cid e por elementos do Quarteto 1111, que mais não foi do que uma tentativa de internacionalização de José Cid e do Quarteto 1111 mas com outro nome. A génese dos Green Windows deve-se, de facto, quando o grupo (sob impulso de Tó Zé Brito) começou a compor canções em inglês meses antes. Mais concretamente remota ao final de 1972, quando o Quarteto 1111 foi convidado para participar no Festival dos Dois Mundos, realizado em Lisboa, tendo o grupo interprado duas canções ( Uma nova maneira de encarar o mundo e Vinte anos), com uma forte componente harmónica, na medida em que todos os elementos do grupo cantavam, incluindo as mulheres de cada um dos membros, perfazendo um total de 8 pessoas em palco. Não tendo ganho o Festival, classificando-se antes em terceiro lugar, no final do concerto um produtor da editore Decca, Dick Rowe - produtor que assinou com os Rolling Stones - abordou a banda tendo convidado os mesmos a gravar um par de canções em inglês, seduzindo-os com a possibilidade de uma carreira internacional.
Foram precisamente esses dois temas que os Green Windows cantaram no Festival dos Dois Mundos, que mais tarde viriam a ser gravados em Londres, sob o nome de Twenty Years e Story of a man, e que sairam para o mercado em formato single, tendo sido então a grande aposta de Dick Rowe. No entanto, o disco passou quase totalmente despercebido no mercado inglês.Talvez não tenha sido alheio a esse facto ter sido a aposta de Dick Rowe para lado A do single a canção "Story of a Man", que bem vistas as coisas, é comercialmente bem menos apelativa que Twenty Years. Contrariamente, cá em Portugal, quando os Green Windows apostaram na divulgação da canção Twenty Years, fizeram-no cantando em português e colocando-a no lado A do single posteriormente editado em Portugal. E o resto é história... Vinte Anos transformou-se, talvez, na canção mais emblemática de José Cid de toda a sua carreira.
Uma curiosidade final: A secção ritmica de Vinte Anos foi composta por uns músicos de um grupo de rock sinfónico, os Blue Mink, isto porque, à data da gravação, devido às leis inglesas e à auto protecção dos músicos ingleses, os músicos estrangeiros não podiam tocar nos próprio discos se o mesmo fosse gravado em Inglaterra, mas apenas cantar... Pelo que foram músicos de estúdio ingleses que acabariam por gravar a parte rítimica de um dos temas mais conhecidos da música portuguesa.
Apesar do sucesso da versão portuguesa, partilhamos hoje com os nossos seguidos, um extracto da versão original de Vinte Anos, cantada em inglês, cuja edição em CD ainda não existe, fazendo parte de um raro single, que felizmente encontramos por um pechincha numa loja de artigos usados.




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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Anita já é bonita - Florbela Queiroz

As músicas de José Cid, praticamente desde o inicio da sua carreira e até aos nossos dias, têm sido objecto de inúmeras versões, cantadas pelos mais diversos artistas, dentro de enumeras correntes musicais. Exemplo disso é o recente disco de Susana Félix, “Nós” na qual esta interpreta a canção Vinte anos, de José Cid.
Curiosamente algumas das canções com letra e autoria de José Cid foram primeiramente gravadas por outros artistas, sendo só mais tarde foram gravadas em nome próprio por José Cid. De rápida memória lembramo-nos, por exemplo, de “Gloria Aleluia” por Tonicha e Simone de Oliveira, “Amanhã, amanhã” por José Cheta e de "Big Brother Joe", por Edmundo Falé, entre muitas outras. Menos conhecido é o facto de algumas das canções de José Cid terem sido literalmente parodiadas por outros artistas, uns assumidos cantores ou actores, outros assumidamente comediantes e até por fadistas aspirantes a humoristas, que mais tarde elencaremos.
A peculiar ( e divertida )versão sobre a qual nos debruçamos hoje é a paródia de “Anita não é bonita “idealizada por Eduardo Damas e transformada em disco em disco com o título travestido de “A Anita já é bonita”, cantada pela conhecida actriz Florbela Queiroz.
Para os mais novos (geração na qual nos incluímos) poderá causar alguma estranheza tal versão ter sido interpretada por Florbela Queiroz. No entanto, a carreira artística de Florbela Queiróz teve desde sempre associada não só ao teatro, como também ao mundo da canção, não sendo excessivo dizer mesmo que durante a década de 60 e inícios da década de 70 a representação e a canção andaram de mãos dadas na vida artística de Florbela Queiroz. Aliás, são mesmo um regalo para os nossos ouvidos as canções que Florbela Queiroz gravou para a Editora Tecla entre 1966 e 1967, coincidindo com os seus três primeiros EP's.
Não podendo, no entanto, Florbela Queiroz, transformar-se numa espécie de mulher dos sete instrumentos, devido às constantes exigências e solicitações que lhe eram impostas devido ao seu estatuto de mulher pin-up da altura, a carreira de Florbela Queiroz acabou por seguir o seu curso natural, sendo hoje conhecida, sobretudo, como uma mulher ligada ao teatro e à televisão, apesar de hoje Florbela Queiroz (artista com quase 60 anos de carreira – e não de idade) não se encontrar devidamente reconhecida pelos seus pares, sendo as solicitações para o teatro cada vez menos frequentes.
Quer se goste quer não da sua voz em finais de década de 70 (uma vez que as opiniões relativamente a esta questão são quase sempre antagónicas), a verdade é que o registo de “A Anita já é bonita” parece-nos encaixar que nem uma luva na voz de Florbela Queiroz e no ritmo acelarado desta canção. Quer se pensa tratar-se de humor vendido ao desbarato ou não, o certo que ao som desta canção a aldeã Anita que era feia, afinal passa a ser bonita bastando para isso uma idas a Lisboa a um instituto de beleza para corrigir alguns dos seus defeitos de rosto e não só (para os mais atentos, é feita uma referência ao facto de a própria Anita ter levantado as “maminhas...”).
Para finalizar este texto, deixamos uma pequena referência ao facto de nesta canção/ paródia, existir uma referência expressa a Mogofores, terra onde José Cid continua a viver actualmente, sendo a única referência que conhecemos às terras do Mogo numa música referente a José Cid.

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Anita não é bonita

Podemos qualificar o ano de 1977 como a ano da divisão entre o que José Cid fez de mais comercial no antes e no depois da sua carreira. Efectivamente, entre 1966 e 1977 José Cid esteve ligado contratualmente à editora Valentim de Carvalho, tendo sido para essa editora que gravaria ora a solo, ora com o Quarteto 1111 (e mais tarde com os Green Windows ), os seus primeiros sucessos, embora nenhum deles tivesse ainda o peso dos mega sucessos que só mais tarde, com a ligação contratual à Orfeu, viriam a atingir. Não estando limitado, na Valentim de Carvalho, apenas ao papel de mero cantor mas também como produtor, arranjador e compositor para outros artistas, José Cid foi a partir dos finais da década de 60 e durante toda a metade da década de 70, um dos mais influentes nomes dentro daquela Editora, sendo ainda hoje um facto inegável que foram da sua autoria alguns dos mais interessantes arranjos para músicas de alguns dos mais populares cantores da época, assim como de outros que se encontravam a iniciar a sua carreira e que posteriormente se eclipsaram ( sendo o caso mais flagrante, o de José Cheta, cantor que chegou a estar na lista de preferência nas votações para cantores mais populares da década de 70 ).
Depois do sucesso da participação de José Cid no Festival de Tókyo 1975 e do lançamento do single “Ontem, hoje e amanhã” ( na sua versão portuguesa, ao contrário da versão em inglês apresentada a concurso naquele Festival), José Cid deu por terminados os trabalhos para aquela Editora, alegadamente por divergências relacionadas com o lançamento daquele single ( em detrimento da versão em inglês, da preferência de José Cid.)
Foi no ano imediatamente a seguir que Cid, após assumir o compromisso com a Orfeu, inicia uma profícua carreira discográfica no que ao lançamento de singles diz respeito. O primeiro de todos esses singles foi uma (ainda hoje) popular canção, aparentemente inspirada em factos e personagens reais (pelo menos a julgar segundo palavras do próprio artista), versando sobre uma história banal de uma mulher feia que queria ser bonita. Nada mais simples do que isso. O cenário dessa simples história, quase humorística, é uma aldeia, sendo as suas personagens meros aldeões que ocupam os seus tempos nas lides agrícolas, tal como Anita (que não era bonita) e o seu Zé apaixonado. Recorrendo a um pop rock semi-popular, destacam-se ainda neste tema os versos também populares de Maria Manuel Cid, “ ( Anita não é bonita, mas acredita que a noite cai),letrista que a partir dessa data foi uma habitual colaboradora de José Cid, quer na sua vertente mais popular, quer até numa vertente mais selecta e eclética, explorada anos mais tarde.
Á semelhança da maioria dos singles que a este se seguiram, o lado B do single é preenchido por uma balada, neste caso “O meu nome é ninguém”, com letra também de Maria Manuel Cid. Participaram na gravação destes primeiro single de José Cid, Maria Armanda, Tó Barbieri e Zé Nabo, sendo que este último viria a ter um papel de destaque nos melhores discos de José Cid para a editora Orfeu. A Anita não é bonita, pode ser encontrada em enumeras colectâneas de singles e sucessos de José Cid, nomeadamente nos seguintes discos: “Os Grandes, Grandes Êxitos de José Cid” e na Antologia “Nasci para a Música

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sábado, 27 de março de 2010

O largo do coreto

Numa altura em que a febre do Festival da Canção parece ter (timidamente) ressurgido no panorama cultural-musical português, quase que se impõe da nossa parte uma referência obrigatória ao facto de na edição deste ano terem estado presentes duas canções apresentadas por artistas intimamente ligados à pessoa de José Cid (embora cada um por motivos radicalmente diferentes). Desde logo Rui Nova, autor e compositor do tema “ Uma canção à Cid”que, pese embora as boas intenções, se ficou apenas pelo 10.º lugar entre os 12 finalistas. ( Realçe-se, no entanto, que chegar à final, entre quatrocentos e tal concorrentes, já é uma proeza). Tal canção não foi mais do que um tributo, em jeito de homenagem, ao músico que lhe proporcionou a edição das suas primeiras canções. Efectivamente, foi José Cid que produziu e conduziu os arranjos das canções que integraram o primeiro L.P. de Rui Nova. “É fundamental, gravado em 1993. Foi também José Cid o autor e compositor do single de apresentação de Rui Nova, lançado quatro anos antes. (Sobre Rui Nova e as contribuições de José Cid para outros artistas falaremos um dia, se lá chegarmos... )
A outra participação no Festival da Canção 2010 que se encontra intimamente ligada à pessoa de José Cid, foi a do jovem Gonçalo Tavares, jovem artista, nosso conterrâneo, que é sobrinho de José Cid, obtendo um honroso 3.º lugar com a canção “Rios”. Pese embora os laços familiares com o artista José Cid, Gonçalo Tavares apresentou-se em palco com um tema com música e letra da sua autoria, o que é de louvar, resistindo assim à tentação de ter tido uma colaboração do tio, artista que, como se sabe, está actualmente novamente nas luzes da ribalta, facto que em muito poderia contribuir para o sucesso do seu sobrinho.
Não adianta escrever aqui que José Cid também participou várias vezes em festivais RTP da Canção, pois tal facto é notoriamente conhecido e repetidamente falado ( ao ponto de saturar...). Facto menos conhecido e algo relativamente invulgar na carreira de José Cid é a circunstância de muito poucas vezes José Cid ter lançado discos com canções escritas e compostas por outros artistas. Efectivamente, se José Cid tem cantado alguns poetas portugueses conhecidos ( como Natália Correia) ou até espanhóis ( Garcia Lorca), não é menos verdade que tem sido o próprio Cid que se tem encarregado dos arranjos da grande maioria das canções ao longo da sua carreira. No entanto, e por falar em festivais, em 1978, José Cid participa no Festival RTP da Canção com uma canção da sua autoria e com 3 canções escritas e compostas por outros músicos e letristas, facto algo inédito até então na carreira do cantor.
À semelhança das restantes três canções ( “ O meu piano”, “Porque “ e “Aqui fica uma canção”) o tema “Largo do Coreto”,que José Cid interpretou no Concurso do Festival RTP da canção, foi nesse mesmo ano, lançado para o mercado em formato single, numa versão gravada nos estúdios Arnaldo Trindade. “O largo do Coreto” tem letra do jornalista Mário Contumélias e música de Manuel José Soares. O lado B do single foi preenchido por “Mulher até quando”, canção que nos transporta para os soberbos arranjos que a música ligeira portuguesa nos tem oferecido, com letra fruto da parceria Mário Contumélias e Manuel José Soares. A música resulta também de uma parceria, mas desta vez, entre Manuel José Soares e Armindo Neves, tendo sido este último o responsável pelos arranjos orquestrais de ambos os temas.
Através deste single, ironicamente, José Cid apenas contribuiu com a sua voz para embelezar canções escritas para si, quando ao longo de toda a sua carreira anos, tem sido precisamente ao contrário, ou seja, José Cid a escrever e compôr para os outros artistas, dos quais realçamos apenas alguns, tais como Simone de Oliveira, Tony de Matos, Tonicha, Edmundo Falé, entre muitos outros de uma lista quase infindável.
Deixamos um excerto deste camaleónico single, com uma capa muito bem concebida,cujas canções se encontram facilmente em formato CD na “Antologia #2 “

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domingo, 31 de janeiro de 2010

Junto à lareira

1978 foi para José Cid um ano de intensa produção discográfica, tendo aquele ano ficado marcado como um dos anos em que este artista mais sucessos produziu, todos eles lançados para o mercado sob o formato single.Terá sido mesmo a partir de 1978 que José Cid alcançou o estatuto de um dos mais populares cantores de sempre da música portuguesa, graças a sucessos como “Junto à lareira”, “ O meu piano” ou "A minha música", entre outros. Foi também nesse mesmo ano que José Cid lançou para o mercado o seu disco mais conceituado e um dos melhores de sempre da sua carreira, o L.P. “10.000 anos depois entre Vénus e Marte”, mantendo assim igualmente a sua vertente camaleónica ao produzir simultaneamente vários registos musicais em estilos musicais totalmente diferentes e muitas vezes antagónicos.
Nesse ano, até à gravação do seu single mais conhecido na época ( A minha música), foram previamente lançados por ordem sucessiva os seguintes singles : “ Ti Anita/Junto à lareira; "O meu piano/A mansarda/"; "Aqui fica uma canção/ Retrovisor"; "O largo do coreto/ Mulher até quando" e "Porquê/Adulto Criança", sendo que os últimos quatro foram lançados todos de uma assentada, como assim comprovam as referências Orfeu Ksat 618,619,620 e 621 respectivamente.
Certamente já muitos se interrogaram o porquê de a Editora não ter decidido reunir num único disco todas essas canções e lançá-las para o mercado em formato L.P., uma vez que foram gravadas todas elas numa única altura. Obviamente que várias razões terão existido para que tal assim tivesse sucedido. Naturalmente, a principal razão prende-se com o facto de, atendendo à época em que nos encontrávamos ( no tempo do vínil) era mais prático e mais barato ao ouvinte adquirir um disco bem mais pequeno, com a canção mais apelativa no lado A e uma outra menos apelativa no lado B. Por outro lado, o lançamento de um L.P. sem que antes tivesse sido proporcionado ao ouvinte uma amostra do mesmo sob a forma de single não era prática comum, sob pena o L.P. não ter posteriormente sucesso em termos comerciais, por muito bom que ele fosse. Exemplo mais evidente disso mesmo, foi o que aconteceu com o L.P. “10000 mil anos depois entre Vénus e Marte” que para além de conter um registo sonoro diferente daquilo que os fans de José Cid estavam acostumados a ouvir, foi lançado sem que antes ( nem depois) lhe tivesse precedido um único single de apresentação. Curiosamente, actualmente esta tradição praticamente já não existe e quando existe não tem qualquer expressão, uma vez que em regra primeiro as editoras lançam para o mercado o CD e só depois é que extraem diversos CD's singles, na sua grande parte destinados a coleccionadores e não ao público em geral como era regra há 30 anos atrás.
Aliás, os cenários inverteram-se de tal maneira que quando actualmente é lançado um CD para o mercado já o mesmo contem uma etiqueta com a indicação de que o mesmo inclui diversos hits que ainda ninguém ouviu !
No entanto, voltando ao assunto, a verdade é que, facto pouco conhecido, é que nesse mesmo ano José Cid lançou para o mercado dois discos de 33 rpm, uma vez que a editora Orfeu, decidiu lançar posteriormente, reunidos num mesmo disco, todos os singles que atrás mencionámos, numa edição que reveste hoje carácter de alguma raridade pois, até ao momento, têm sido poucos os exemplares deste L.P. que temos visto à venda. Com a menção na contracapa de “ Orfeu Especial” o L.P/ compilação “ O meu piano, Aqui fica uma canção; O largo do coreto; Porque” tem sido muitas vezes confundido com um E.P. devido título que ao mesmo foi dado. Contudo, trata-se de um disco de longa duração que reúne as dez últimas canções gravadas por José Cid durante o ano de 1978 até à data do seu lançamento.
Suspeitamos igualmente que, devido à capa do disco em que aparece José vestido com um fato de astronauta (tal qual Flash Gordon ) que o mesmo já terá sido lançado depois de “10.000 anos depois entre Vénus e Marte”, quem sabe para colmatar o fracasso de vendas deste último...
Seja como for, mais importante do que as músicas contidas neste disco, que no fundo grande parte das pessoas conhece, fica aqui o registo da capa deste L.P., que embora tratando-se de uma compilação não poderá deixar de constar da discografia oficial de José Cid. Mesmo assim, escolhemos para apresentação do L.P. A sua conhecida balada “ Junto à lareira”,mais tarde versionada por Tony de Matos e pela cantora brasileira Joana.

Junto à Lareira também disponível em : " Os grandes, grandes Êxitos de José Cid", Ti Anita ( Single), Antologia "Nasci para a musica" ( 2 CD)

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Doce e Fácil no Reino do Blá Blá Blá

No período compreendido entre 1971 e 1975, José Cid manteve-se em actividade de forma ininterrupta, conciliando paralelamente os seus projectos a solo com formação dos Green Windows e a espaços com o que ainda restava do Quarteto 1111. Não é de estranhar, portanto, que durante esses anos vários Ep's , singles e até discos de longa duração tenham sido lançados para o mercado com composições da autoria de José Cid, ora a solo ora como membro de uma dessas formações. O mesmo período temporal coincidiu também com ínicio da participação massiva de José Cid em Festivais da Canção, sendo a sua participação de 1974 uma das que mais sucesso teve com a actuação dos Green Windows com o tema “ No dia em que o rei fez anos”, classificada em segundo lugar, atrás de “ E depois do Adeus” de Paulo de Carvalho.
Devido ao sucesso das actuações José Cid no Festival da Canção de 1974 (com “No dia em que o rei fez anos” “Imagens” e “ A rosa que te dei”, esta última a solo) foram lançados em 1974 dois singles dos Green Windows e um single de José Cid, contendo cada um deles na face A uma das canções participantes no Festival da Canção de 1974. Assim, sem qualquer surpresa e com as referências Decca SPN 160, Decca SPN 161 e Decca 162 foram lançados de seguida os singles “A rosa que te dei” , “Imagens” e
“ No dia em que o rei fez anos”.
Graças à cumplicidade existente entre a figura de José Cid enquanto autor e compositor dos Green Windows, a editora aproveitou para lançar no lado B do single “Imagens”, uma composição, originalmente editada por José Cid em 1973, num dos seus singles a solo. Falamos da canção “ Doce e Fácil no Reino do Blá Blá Blá”, que durante anos foi associada como pertencendo ao reportório dos Green Windows quando, no fundo se trata de uma canção de José Cid, gravada em nome próprio. Para tal facto terá contribuido, por uma lado, o relativo fracasso do single “Cantiga Portuguesa/Doce e Fácil no Reino do Blá Blá Blá” ( Decca SPN 143 D), e por outro lado, o facto de durante muitos anos a canção Doce e Fácil no Reino do Blá Blá Blá, ter sido incluida em diversas colectâneas dos Green Windows, sem qualquer distinção em termos de autoria. Acresce que a actual raridade do single originariamente gravado em 1973 também contribuiu em parte para que a maioria dos apreciadores da obra de José Cid apenas conhecessem a canção Doce e Fácil no Reino do Blá Blá Blá como lado B do single "Imagens" dos Green Windows. Nem mesmo em 2007 com o lançamento da colectânea “ Pop Rock & Vice Versa”, exclusivamente composta por canções de José Cid em nome próprio parece ter dissipado as dúvidas em relação a essa matéria.
Porém, com a mensagem de hoje e com a capa e contracapa do disco que apresentamos aos nossos leitores, pretendemos desfazer todas as dúvidas, dando a conhecer uma das mais raras capas de disco de José Cid, bem como convidar o ouvinte a escutar mais um interessante aspecto da dimensão camaleónica da obra de José Cid: no mesmo disco, no lado A encontramos uma canção de raíz popular, enquanto que o lado B, já nos transporta para os loucos anos 70, apresentando-nos uma canção com uma sonoridade marcadamente rock, com guitarras eléctricas bem vincadas e vozes bem puxadas, como era característica da (boa) música da época.

"Doce e Fácil no reino do Blá Blá Blá" também está disponível em formato CD em : Pop Rock & Vice Versa.

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sábado, 21 de novembro de 2009

Dona Feia, Velha e Louca

Ao longo de toda a carreira discográfica de José Cid encontram-se não raras evocações da poesia popular medieval, as quais, devido à sua peculiar estrutura rítmica, são susceptíveis de proporcionar, na maioria das vezes, interessantes adaptações musicais. Desde logo com o Quarteto 1111, explorando a obra de Gil Vicente, passando pelo single “D. Fulano”, no qual Cid explora pela primeira vez a escrita do Rei D. Dinis (em parceria com Natália Correria”) passando “Todas las aves do mundo” do seu segundo E.P. “ História Verdadeira de Natal” e até pelo Cancioneiro Geral de Garcia de Resende em “Fermosinha “do L.P. “ José Cid” ( 1989), sem esquecer ainda a adaptação musical de outro poema de D. Dinis “ Ai, ai, flores de verde Pinho” em 1979, para o único single de Armanda, José Cid tem a espaços repescado interessantes composições medievais, sejam elas de autores desconhecidos ( pertencentes ao imaginário popular) sejam elas de trovadores assumidos. Também no seu primeiro E.P. a solo, “Lisboa, Perto e Longe”, ( Columbia 8E-40108) José Cid musicou, recriando a sonoridade correspondente a uma interessante cantiga de escárnio e de maldizer com o título original de «Ai Dona fea, fostes-vos queixar», da autoria do trovador português do séc. XIII, João Garcia de Guilhade, adaptada por José em 1972, para o português moderno do então século XX.
Não querendo entrar muito em explicações relativas ao trovadorismo medieval, podemos adiantar em jeito de síntese, que nesta cantiga estão presentes as características essenciais das cantigas de escárnio e de maldizer: a ironia manifesta, a ambiguidade do vocabulário utilizado enraizado em duplos significados e a ocultação da pessoa visada com o escárnio, características que José Cid manteve intactas na adaptação que fez do poema, cantando para uma mulher que até então se queixava do facto de um determinado trovador nunca a ter elogiado nas suas cantigas, ao mesmo tempo que manteve a ironia ao apelidá-la de “feia, velha e louca”.
Por mera curiosidade, transcreve-se na íntegra o poema original de João Garcia de Guilhade:

Ai dona fea! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea! Se Deus me pardon!
E pois avedes tan gran coraçon
Que vos eu loe, en esta razon,
Vos quero ja loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora ja un bon cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!

"Dona feia, Velha e Louca", trata-se de um tema pouco conhecido de José Cid, extraído de um dos seus mais raros discos, do qual apenas podemos encontrar em CD, a canção que dá título ao E.P. “ Lisboa, Perto e Longe”. As restantes canções ( “Dida”, “Dona Feia, Velha e Louca” e “Zé Ninguém” ainda estão para ver a luz do dia em formato CD.
“Lisboa Perto e Longe” da trilogia de EP's de José Cid após o seu primeiro LP a solo, é talvez o mais camaleónico dos três e aquele que e, termos de sonoridades musicais revela o lado mais multifacetado de José Cid, explorando quatro composições musical e tematicamente diferentes entre si. Neste tema concreto, destaca-se acima de tudo, para além da componente medieval, evidentes reminiscências do folclore tradicional, devido à escolha cuidada dos instrumentos, todos eles acústicos, que ilustram este poema.

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Madrugada na Praia deserta # 2

Depois de termos recebido mais de 20 comentários de diversos leitores relacionados com a última mensagem sobre ao novo disco de José Cid, na qual elaborámos a nossa humilde crítica, não podíamos ficar indiferentes ao acolhimento que a canção( por nós)escolhida para sua apresentação teve junto da crítica. Da nossa parte fica o agradecimento sincero a todos os que leram o nosso blogue e o regozijo de não termos defraudado as expectativas de todos aqueles que, de uma forma ou outra, compraram o disco influenciados pelas nossas palavras.
Não podemos também ficar indiferentes ao e-mail que recebemos dias antes, por parte da Rádio Miróbriga, a alertar-nos para o programa Atlântico, da autoria de Bruno Gonçalves Pereira, de dia 30 de Outubro. Contudo, devido aos nossos inúmeros afazeres, que nos têm impossibilitado de manter a actualização semanal do blogue a que nos tínhamos proposto, não nos foi possível anunciar atempadamente a emissão do programa, com direito a entrevista com José Cid e à versão original de “Madrugada na praia deserta”, excluída do disco, em favor da versão que apresentámos na mensagem anterior.
Por uma questão de justiça e como sabemos que a procura foi bastante, divulgamos aqui um excerto da canção, que nos foi facultada gentilmente por Luís do Ó, para que todos os leitores comparem as diferenças entre a primitiva versão e a versão definitiva. Justiça seja feita também a Ulisses Ulisses Silva,– vocalista dos K2O3 – compositor do tema, músico de Santiago do Cacém, a quem auguramos um excelente futuro como compositor.
Clique no Play para ouvir um excerto do tema retirado do programa Atlântico, que se encontra disponivel para audição na íntegra no blogue do programa ou através deste link : http://ooutrolugar.blogspot.com/2009/11/o-atlantico-ganhou-asas.html

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Coisas do Amor e do Mar - Madrugada na Praia Deserta


Sete anos depois do lançamento do último trabalho de originais, José Cid está de volta aos discos com “ Coisas de Amor e do Mar( disco que chegou a ter o título e capa provisória de “ Clube dos Corações Solitários do Capitão Cid”, claramente inspirado no homónimo dos Beatles, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band) . Não temos pretensões de ser críticos musicais, mas sendo este blogue um espaço que visa revisitar toda a carreira discográfica de José Cid, desde o ontem, o hoje e o amanhã, não podíamos ser indiferentes ao lançamento de algo de novo de José Cid, quanto mais sabendo que desde 2002 ( com excepção de “ Ao vivo no Campo Pequeno” ) apenas proliferaram no mercado colectâneas, antologias e best off' de José Cid. Sob pena de o sucesso dos seus recentes concertos ao vivo não acompanhar o sucesso discográfico era pois imperioso que emergisse na discografia de José Cid algo de novo, que fizesse lembrar aos ouvintes mais distraídos que afinal o trabalho de José Cid não se resume apenas a velhos sucessos. Bem, pelo contrário; como já havíamos vaticinado num texto anterior, José Cid está para durar e em grande forma. Basta ouvir este disco para concluir dessa maneira.
Apesar de José Cid afirmar sem rodeios que “coerente era a minha avó”, ( frase estampada na t-shirt oferta que acompanha o disco) o certo é que, na nossa opinião, este disco é um dos mais coerentes que José Cid lançou nos últimos anos: Primeiro por se tratar de um disco com um fio-de-prumo assumidamente pop-rock, embora com algumas nuances de funky em algum temas ( nomeadamente no sublime “ Ele, Ela e a Cidade”,a nova versão de Telenovelas de 1996 ), depois por se tratar de um disco com uma produção cuidada no seu todo, conferindo-lhe assim uma homogenidade sonora e musical, uma vez que nada foi deixado ao acaso, gravado sem pressas desesperadas de finalização estética, e sobretudo, por se tratar de um disco conceptual, como todas as canções centradas na temática do amor e do mar. (Podemos mesmo dizer, com a certeza absoluta de que José Cid concordará connosco, que o novo disco de José Cid é o resultado da combinação explosiva daquilo que o amor e o mar nos podem oferecer quando conjugados entre si). E por fim, coerência que se manifesta também em termos de escrita, no qual José Cid vai buscar os suspeitos do costume no que toca à autoria das letras das canções: a poetisa Maria Manuel Cid, autores clássicos e contemporâneos como David Mourão Ferreira e Almeida Garrett, Ana Sofia Cid, e claro, o próprio José Cid.

Mais do que “ De Surpresa”, "Coisas de Amor e do Mar", surge-nos com um som fresco e actual por parte de um capitão Cid, nitidamente despreocupado com as pressões de fabricante de sucessos que outrora sobre si recaíam. No entanto, apesar dessa despreocupação, facilmente se poderão retirar cinco ou seis possíveis singles de sucesso imediato. Canções como “Todas as mulheres do mundo”, “+ um dia” ( genérico da telenovela da TVI Doce Fugitiva e single de apresentação do disco) e “Só eu tu e o vento” são disso um exemplo. Por outro lado, numa vertente menos comercial surgem-nos ligeiros desvios à coerência do disco, no reinventar de temas dos anos 90 como o já referido Telenovelas ( agora sobre o nome de Ela, Ele e a Cidade), "E por Vezes" ( em dueto com Susana Félix) e, sobretudo, o muito bem conseguido dueto com Luís Represas. Neste dueto, José Cid a bom tempo recuperou o tema “No meu veleiro”, com letra e música de sua autoria, primeiramente cantado pela desconhecida Paula em 1993 sob o nome de “No meu barquinho” e posteriormente por José Cid, sob o nome de “Mudança”, em 1994, do albúm “Vendedor de Sonhos”.
Com todo o respeito pelos outros convidados de José Cid no disco ( Susana Félix e André Sardet), a escolha de Luís Represas para interpretar em dueto “O meu veleiro”, para além parecer ser a única escolha possível, devido às caracteristicas da sua voz, culmina na sua versão definitiva, visto que o encaixe da voz de Luís Represas nesse tema atinge a perfeição, ao ponto de ser totalmente legítimo pensar até que poderiamos bem estar perante um tema retirado de um disco do próprio Luis Represas !

Há ainda, dois outros temas que destacamos do novo disco de José Cid e que, aconselhamos, caso o leitor compre o disco, a ouvir com a devida atenção: “É no silêncio das coisas”, não só pela música em si, mas sobretudo pelo belíssimo poema legado por Maria Manuel Cid, e “Madrugada na praia deserta”, tema que escolhemos para apresentar este disco aos leitores. Por quê,, pergunta o leitor ? Por varias razões: Em primeiro lugar, é o tema que esteticamente se destaca mais de todos os outros, com uma toada marcadamente rock sustentada num som de guitarra com os efeitos de reverbação e delay que fazem até lembrar um The Edge ( guitarrista dos U2). E,por outro lado, é neste tema que José Cid surpreende até mais cépticos em relação à frescura, joviabilidade e força da voz de um cantor que interpreta uma canção tecnicamente exigente, que muitos vocalistas de bandas jovens não conseguiriam interpretar da forma como José Cid o fez a caminho dos setenta anos. ( Aconselhamos mesmo os mais novos a não tentarem fazer o mesmo em casa., sob pena de poderem ficar com danos permanentes nas cordas vocais...)
Da nossa fica então o registo positivo do regresso de José Cid aos discos de originais, restando-nos aguardar agora pelo lançamento dos discos já gravados e ainda não lançados tais como “ O menino prodígio”, “Quem tem medo de baladas ?” “ Fados e Fandangos” e “Vozes do Além” ( o aguardado disco de rock progressivo, ainda em gravação ).



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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Bodas de ouro

Numa altura em que os relacionamentos são tão fugazes e a dificuldade em manter relações duradouras (mesmo entre pessoas que se amam) é a regra dos tempos modernos, trazemos hoje ao nosso blogue uma canção, com letra e música de José Cid, que tem na sua base precisamente o oposto: A vivência em comum de duas vidas unidas numa só ao longo de mais de cinquenta anos. Nos tempos de hoje, a notícia da celebração de umas bodas de ouro, é um acontecimento que pode causar alguma estranheza, não só pelo facto de o amor estar cada vez mais desacreditado mas também porque, em virtude da (alegada) igualdade de oportunidades entre os sexos e do aumento das exigências de formação escolar e académicas das populações, os jovens tendem a casar-se cada vez menos jovens, numa misto de maturação e amadorismo à mistura no que toca à partilha de uma vida a dois. Cada passo é calculado e pensado ao pormenor, sendo cada momento de reflexão um momento inquietante de dúvidas e de incertezas que, aos poucos, se vão apoderando da mente dos amantes.
Muitas vezes a opção por uma vida a dois, quando chega a ser tomada, assume primeiro a forma de experimentalismo inicial, comummente designado por “ um viver juntos”, para só mais tarde se transformar num casamento em termos formais. Desta forma, quando o acto que legitima a celebração das bodas de prata ou de ouro acontece, já a finitude do tempo que nos limita nos obriga a fazer contas e a desafiar à nossa irremediável mortalidade se quisermos celebrar as bodas de ouro com alguém ao nosso lado. Se atendermos à idade em que as pessoas celebram hoje o (primeiro) casamento e à esperança média de vida dos portugueses, só podemos concluir que probabilidade de um cônjuge vir a celebrar os 50 anos de casado com o outro ainda vivo a seu lado, é realmente muito diminuta e a acontecer, será quase um autêntico milagre. É disso que José Cid nos falava já em 1979, quando gravou “Bodas de Ouro”, lado B do single “ Verdes Trigais em Flor” (Orfeu KSAT 673). Como já era hábito, os arranjos são de José Cid e de Mike Sergeant. Com a gravação de “Bodas de Ouro”, José Cid demonstra mais uma vez toda a sua versatilidade enquanto compositor e cantor, enveredando numa viagem pela música ligeira de extrema qualidade, ao mesmo tempo que gravava para o disco “Canta Coisas Suas” registos musicais de música popular, disco-sound ou baladas.
Para além do single referido, é possível encontrar a canção “Bodas de Ouro” no disco “Grandes Êxitos N.º2 “ e “Antologia # 2”.

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sábado, 22 de agosto de 2009

Pelos Direitos do Homem !

Depois de “Nunca mais é sexta-feira!” (disco que passou despercebido), José Cid lança ainda no mesmo ano, mas desta vez para uma outra editora, um outro disco que conseguiu suscitar mais interesse do que o certamente esperado. Isto porque o tema de abertura do álbum, igual ao nome com que José Cid baptizou o disco, era, sem sombra de dúvidas, bastante apelativo: “Pelos Direitos do Homem!”, canção que evoca, de forma geral, as violações dos direitos humanos perpetrados durante as grandes guerras e regimes ditatoriais e, em particular, o drama do Massacre de Dili, em Timor e consequentes tumultos que se seguiram entre as milícias Pró-Indonésia e os defensores da independência do povo de Timor-leste. Com a memória do massacre de1991 ainda bem presente e pelo protagonismo que a figura do então prisioneiro Xanana Gusmão inspirava em todo o planeta, enquanto guerrilheiro pela liberdade esperada do povo timorense, Pelos Direitos do Homem acaba por ser, não apenas um mero apelo ao respeito dos direitos humanos, mas também uma homenagem a todos aqueles que “ morreram indefesos e heróicos” vitimas de todos aqueles que promovem guerras e a dor universal”, em detrimento da paz dos povos. Não é por acaso, portanto, que breves referências a Auschwitz, ao Vietnam, à Sibéria e à prisão do Tarrafal, transformam os versos desta canção numa composição cheia de conteúdo à luz da tématica dos direitos do homem. Diga-se, aliás, que em relação à questão de Timor, os versos de Cid são bastante explícitos: “ E se eu fosse um guerrilheiro em Timor, que fuzilassem no alto da falésia/ Eu gritaria de raiva e de dor/ Viva Xanana, abaixo a Indónesia”.
Á semelhança de outros projectos, pois foram muitos os artistas que se uniram à causa timorense, José Cid, atento e pleno de oportunidade, também ele reuniu em sua casa, em Mogofores, Miguel Ângelo (Delfins), Sara Tavares, Olavo Bilac (Santos & Pecadores) e Inês Santos, para juntos cantaram cada um dos versos que compõem esta composição. Para os mais saudosistas, esta canção trata-se de um momento musical que, não se pode dissociar, pelas suas parecenças, com o de 1985, aquando da gravação do single“ Um abraço a Moçambique” que contou a colaboração de mais de uma dezena de artistas, incluindo José Cid, projecto que apelava a uma causa humanitária. Mesmo que em contextos e em épocas diferentes, “Pelos Direitos do Homem!” é uma canção terá que ser considerada necessariamente uma canção de intervenção, gravada numa época em que a liberdade em Portugal, pelo menos de forma aparente, ainda se mantém em Portugal.
Fazendo parte de um disco atípico de José Cid, em que metade dos temas são versões de alguns dos mais conceituados artistas portugueses (como Pedro Abrunhosa, Sérgio Godinho ou Pedro Ayres Magalhães) Pelos Direitos do Homem! ( CD RCA 74321 1350032, também disponível em K7), é uma boa excepção à sonoridade predominante no resto do disco, marcado pelo predomínio das programações rítmicas e sequenciações de Rui Vaz e Francisco Martins. Pelo conjunto de todos os instrumentos tocados, a até pelo lado mais gospel que o seu refrão nos oferece, cremos que a canção Pelos Direitos do Homem !, é a referência e escolha natural para apresentarmos aos nossos leitores enquanto amostra desse trabalho musical de José Cid
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sábado, 8 de agosto de 2009

Na manhã do meu viver

Imediatamente a seguir ao sucesso de José Cid no Festival Eurovisão da Canção de 1980 a sua produção discográfica não se manifestou através da gravação de discos de originais. Nesse ano foram lançados para o mercado o duplo LP “ Os grandes, grandes sucessos de José Cid” ( da Orfeu), bem como a colectânea autorizada pela Valentim de Carvalho à etiqueta brasileira Arlequim, simplesmente denominada “José Cid”( que reunia igualmente alguns dos sucessos de José Cid e dois inéditos ) De igual modo, no ano seguinte, apesar do lançamento do single "Um rock dos bons velhos tempos", optou-se pela mesma linha do ano anterior, com o duplo L.P. “ Grandes Êxitos N.º 2”, que, no fundo, mais não era do que a continuação da colectânea de 1980, embora com a inclusão de alguns temas inéditos. Dessa forma, o regresso de José Cid ao discos de originais só sucedeu em 1982, com o álbum “ Magia” ( Orfeu, FPAT 6020), com arranjos repartidos entre os suspeitos do costume ( José Cid e Mike Sergeant) e ainda Shegundo Galarza, conhecido maestro ( pai do baterista Ramón Galarza) que pontualmente cuidou da direcção artística de alguns dos temas de José Cid nos anos 70 e 80 e, em especial, neste disco.
Com excepção da bonita balada “ Desencontro”, que na altura teve alguma divulgação e sucesso, podemos dizer que “Magia”, não foi, comercialmente, o disco com mais sucesso de José Cid, uma vez que no seu alinhamento não vinha incorporada qualquer canção pop/rock que pudesse transpôr as barreiras rumo ao sucesso. “Magia”, apesar de se considerar um disco de musica ligeira com suaves tendências pop/rock, é, acima de tudo, um disco com um carácter pouco comercial, se atendermos ao alinhamento das canções, quase todas elas calmas canções de amor, sem grandes desenfreadas correrias rítmicas e sem artificios de estúdio. Bem pelo contrário; a predominância do piano de José Cid atravessa quase todo o disco, unido à sua voz, que pela primeira vez, evidencia um José Cid envolto num romantismo jamais evidenciado num LP até então. Os títulos das canções são todos eles sugestivos e a escolha de Shegundo Galarza para conduzir os arranjos (orquestrais) de quatro dos dez temas que compõem o alinhamento do disco, aprofundou ainda mais o romantismo daquele registo musical. Inconscientemente ou não, “Magia” acabou por surgiu em plena década de 80, completamente ao arrepio das expectativas que eram depositadas em José Cid após a sua participação no Festival Eurovisão da Canção. Para quem ansiava pular e saltar com aquele disco, tal não passou de uma autêntica desilusão. No entanto, para aqueles que preferiam uma nova viragem discográfica de D. Camaleão, “Magia” acabou por ser o início das constantes mutações nas roupagens musicais que José Cid foi vestindo e despindo ao longo de toda a década de 80.
“Magia”, não viu até hoje a sua reedição em CD, estando, no entanto já assegurada a total transposição das canções deste disco em formato digital em várias colectâneas, nomeadamente através das Antologias “Nasci para a música” e “Antologia # 2”. A título meramente exemplificativo, deixamos hoje ao ouvinte, um excerto da canção “ Na manhã do meu viver”, composição que apesar de ter sido incluída antes como inédito no duplo LP “ Grandes Êxitos N.º 2”, viu também sua inclusão no álbum “Magia” mais do que justificada pela temática que gira em torno deste disco. Trata-se, conforme já se aflorou em mensagem anterior, de uma canção sucedânea de “ Springtime of my life” ( versão em inglês de “Na manhã do meu viver” ), escrita e gravada sensivelmente um ano antes em Los Angeles para a editora Family e que, curiosamente, só após o lançamento de Magia, veio a ser incluída num disco de José Cid ( mais concretamente “ Portuguesa Bonita”, de 1983). Para além dos já referidos “Magia” e “ Grandes Êxitos N.º 2”,Na manhã do meu viver” pode ser encontrada em excelente qualidade sonora na “Antologia # 2”.

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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Amor é fogo que arde sem se ver

Ironicamente a década de 90 coincidiu com o período temporal em que mais discos de José Cid foram lançados para o mercado. No entanto, contrariamente ao que se podia prever, após o mega êxito de "Cai Neve em Nova York" de 1989, o percurso musical de José Cid daí para diante esteve longe de atingir as luzes da ribalta. Discos menos comerciais, em nada consonantes com a fábrica de sucessos anteriormente construída nos anos 70 e 80, sucederam-se uns atrás dos outros, num total de oito. Não estranhou por isso que, em termos discográficos, José Cid findasse o anterior milénio com o lançamento de mais um álbum discreto, à semelhança de todo o seu percurso musical durante essa década.
Se é uma verdade indiscutível que a (ainda pouco) falada marginalização de José Cid (e da música portuguesa em geral), ocorrida nas rádios portuguesas no início dos anos 90, contribuiu para o fracasso comercial dos seus discos, não deixa de ser também menos verdade que a opção de José Cid por uma vertente musical menos sedutora para o público em geral foi também um factor decisivo para que alguns dos seus discos (de imensa qualidade) tivessem ficado arredados do conhecimento da crítica. E note-se que falamos de alguns dos mais belos trabalhos musicais de José Cid; para além do já falado “Camões, as Descobertas e Nós” de 1992, que particularmente admiramos, há que realçar ainda o disco “ Entre Margens” de 1999 (205 OVCD), registo sonoro ancorado, na sua grande maioria, em sonoridades musicais que se entrelaçam com as nossas raízes mais puras, sem, contudo, deixar de lado o toque da modernidade que sempre caracterizou os discos de José Cid.. Canções como “ S. Salvador do Mundo”, e “Fandangueiro à luz da Lua” são exemplo de uma busca de José Cid pelo recordar das nossas lendas e tradições, recorrendo aos sons das guitarras de Coimbra, ao acordeão, ao sapateado, à viola, conjugados ainda com a sua própria voz que, plena de fado, consegue transmitir ao ouvinte a nostalgia que vai cantando ao longo do disco. Também através dos poemas emprestados de iminentes escritores como David Mourão Ferreira, Fernando Pessoa, Natália Correia, Luís de Camões e os espanhóis Pablo de Neruda e Rosália de Castro, é feita simultânea homenagem aos poetas e temáticas que ao longo dos anos têm influenciado José Cid nas suas canções. Por essa razão, “Entre Margens” apresenta-se como um disco que transporta consigo um misto de sentimentos dispersos, como a saudade, a nostalgia, a portugalidade, a fé, a esperança e, evidentemente, o amor. Apesar de dispersos, todos eles têm em comum o facto de mergulharem na sonoridade única dos sons da nossa terra, sendo essas composições as que ainda hoje, quando José Cid se reúne com os “Sons do Centro”, as que constituem a grande maioria do reportório dos seus espectáculos.
É sobre o amor, temática inalienável das nossas vidas, que nos debruçamos hoje, ao elegermos para apresentação do disco o conhecidíssimo poema de Luís de Camões “ Amor é fogo que arde sem se ver”, numa interpretação despida de arranjos sumptuosos, antes sim com recurso aos tímidos sons do piano e sintetizadores (de José Cid) e ao contrabaixo, guitarras eléctricas e acústicas ( de Francisco Martins, colaborador habitual de José Cid nos anos 90) num registo que, apesardespida de complexidade, não deixa de se enquadrar no lado mais intimista daquele disco. Não sendo fácil cantar Camões, mais difícil se torna necessariamente musicar a lírica camoniana, pelo menos a julgar pelos registos musicais que nos têm chegado até aos dias de hoje das interpretações da poesia de Camões. Apesar de tudo, cremos que a adaptação musical de José Cid de um dos poemas mais conhecidos de Luís de Camões, resultou muito bem, sendo um excerto desse tema que hoje partilhamos com o leitor.

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mosca Super Star

Em Novembro de 1975, em Tókio, Japão, José Cid participa pela segunda vez (enquanto intérprete) no célebre World Pop Music Festival, com a versão original de “Ontem, hoje e amanhã”, (“ Yesterday, Today and tomorrow”), no qual obteve o honroso 9.º lugar, participação essa que lhe valeu ainda o reconhecimento com um dos prémios Outstanding Song Awards do Festival, enquanto “composição notável”. O brilharete de José Cid impunha, pois, o lançamento imediato de um single no mercado português que reflectisse o sucesso da sua participação. Apesar de José Cid ter escolhido a língua inglesa para se apresentar em solo nipónico, o single que saiu para o mercado em Março de 1976 acolheu no seu lado A a versão portuguesa de “Ontem, hoje e amanhã” (Decca SPN 199 G), com uma apelativa e sugestiva referência na capa “ Canção Vencedora do Prémio Outstanding Composion no Festival de Tóquio de 1975”. Naturalmente, tratou-se de um dos discos de José Cid que mais unidades vendeu na sua carreira, fazendo ““Ontem, hoje e amanhã” parte de um grupo limitado de refrãos de canções que a grande maioria dos portugueses conhecem.
No entanto, o mesmo já não se pode referir em relação ao lado B do single, “Mosca Super- Star” que permanece quase que desconhecida do grande público. Ao trazermos hoje “Mosca Super-Star” estamos também a recuar ao início de 1976, ano em que José Cid funda o grupo Cid, Scarpa, Carrapa & Nabo ( com Guilherme Inês, Carrapa e Zé Nabo ) Infelizmente, essa formação foi uma das mais efémeras formações da história do rock sinfónico-progressivo português, tendo apenas gravado duas composições: “Mosca Superstar” e a “Vida” ( Sons do quotidiano)”, durante o ano de 1976, antes da transição de José Cid da Valentim de Carvalho para a editora Orfeu. Na nossa opinião, Mosca Super-Star é uma das melhores composições de José Cid, na qual este, mesmo recorrendo a sonoridades com evidentes reminiscências de rock psicadélico-progressivo dos anos 70, tem ainda o propósito de lançar mão de uma crítica satírica aos sucessivos governos de transição após o 25 de Abril e à consequente mudança para o mesmo rumo de onde se partira. “Foram-se as moscas embora/fiquei sentado na mesa/mas só as moscas mudaram/pois a comida é a mesma”. Mesma opinião partilhamos em relação ao E.P. “Vida”, sobre o qual nos debruçaremos numa outra oportunidade.
De forma incompreensível, a colectânea de 2006 da EMI “Grandes Êxitos” inclui o tema "Mosca Super-Star" com um som trituradamente abafado, ao ponto de eventualmente o ouvinte poder pensar tratar-se de uma gravação retirada directamente de uma cassete com as fitas amolecidas , depois de muitos anos de exposição ao Sol na bagageira de um carro. Enquanto “Mosca Super-Star” não aparece em formato digital com uma qualidade sonora que se aceite, limitamo-nos a colocar um excerto da nossa versão, retirada directamente do vinil, que ainda assim, supera em muito, em termos sonoros, a versão digital.

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