É ponto assente que 1971 foi musicalmente um dos anos mais importantes de história da música popular portuguesa. Para além de outros acontecimentos de relevo, foi este o ano do lançamento de alguns discos que marcaram um início de um novo rumo na música portuguesa, quase todos eles provenientes de cantores contestatários, numa vertente de assumida ruptura com o Nacional Cançonetismo.
Foi igualmente o ano em que decorreu em Portugal (depois de frustrada a organização do primeiro Festival de Rock Português em 1968, no Estoril,), o Festival de Vilar de Mouros, com a participação dos então grandes nomes da música portuguesa (do rock, mas não só, pois aquele tratou-se de um Festival artisticamente muito abrangente) e de alguns artistas estrangeiros, sendo os de mais renome o extravagante Elton John e os Manfred Mann.
Nesse alinhamento de concertos e de bandas (numa imitação em tamanho português ao Festival de Woodstock de 1969) actuaram alguns dos maiores nomes da música portuguesa, nomeadamente do pop-rock, que timidamente começavam a libertar-se do Yé-Yé. Desse elenco constavam nomes como os Pop Five Music Incorporated, Os Chincilas, Os Sindikato, Pentágono, Duo Ouro Negro, e, obviamente, o Quarteto 1111, que apesar de ser uma banda como músicas censuradas, acabou por participar no Festival de Vilar de Mouros. No entanto, por imposição de "entidade externa" o Quareto 1111 durante as actuações nesse festival, acabou por cantar quase todas as músicas em inglês, tendo mesmo iniciado o primeiro concerto com um tema de Janis Joplin ( Move over).
O Festival de Vilar de Mouros acabou por ser na carreia de José Cid ( e do Quarteto 1111), o passo natural para o surgimento mais tarde dos Green Windows, grupo liderado por José Cid e por elementos do Quarteto 1111, que mais não foi do que uma tentativa de internacionalização de José Cid e do Quarteto 1111 mas com outro nome. A génese dos Green Windows deve-se, de facto, quando o grupo (sob impulso de Tó Zé Brito) começou a compor canções em inglês meses antes. Mais concretamente remota ao final de 1972, quando o Quarteto 1111 foi convidado para participar no Festival dos Dois Mundos, realizado em Lisboa, tendo o grupo interprado duas canções ( Uma nova maneira de encarar o mundo e Vinte anos), com uma forte componente harmónica, na medida em que todos os elementos do grupo cantavam, incluindo as mulheres de cada um dos membros, perfazendo um total de 8 pessoas em palco. Não tendo ganho o Festival, classificando-se antes em terceiro lugar, no final do concerto um produtor da editore Decca, Dick Rowe - produtor que assinou com os Rolling Stones - abordou a banda tendo convidado os mesmos a gravar um par de canções em inglês, seduzindo-os com a possibilidade de uma carreira internacional.
Foram precisamente esses dois temas que os Green Windows cantaram no Festival dos Dois Mundos, que mais tarde viriam a ser gravados em Londres, sob o nome de Twenty Years e Story of a man, e que sairam para o mercado em formato single, tendo sido então a grande aposta de Dick Rowe. No entanto, o disco passou quase totalmente despercebido no mercado inglês.Talvez não tenha sido alheio a esse facto ter sido a aposta de Dick Rowe para lado A do single a canção "Story of a Man", que bem vistas as coisas, é comercialmente bem menos apelativa que Twenty Years. Contrariamente, cá em Portugal, quando os Green Windows apostaram na divulgação da canção Twenty Years, fizeram-no cantando em português e colocando-a no lado A do single posteriormente editado em Portugal. E o resto é história... Vinte Anos transformou-se, talvez, na canção mais emblemática de José Cid de toda a sua carreira.
Uma curiosidade final: A secção ritmica de Vinte Anos foi composta por uns músicos de um grupo de rock sinfónico, os Blue Mink, isto porque, à data da gravação, devido às leis inglesas e à auto protecção dos músicos ingleses, os músicos estrangeiros não podiam tocar nos próprio discos se o mesmo fosse gravado em Inglaterra, mas apenas cantar... Pelo que foram músicos de estúdio ingleses que acabariam por gravar a parte rítimica de um dos temas mais conhecidos da música portuguesa.
Apesar do sucesso da versão portuguesa, partilhamos hoje com os nossos seguidos, um extracto da versão original de Vinte Anos, cantada em inglês, cuja edição em CD ainda não existe, fazendo parte de um raro single, que felizmente encontramos por um pechincha numa loja de artigos usados.
Clique no Play para ouvir um excerto de Twenty Years