Apesar de José Cid afirmar sem rodeios que “coerente era a minha avó”, ( frase estampada na t-shirt oferta que acompanha o disco) o certo é que, na nossa opinião, este disco é um dos mais coerentes que José Cid lançou nos últimos anos: Primeiro por se tratar de um disco com um fio-de-prumo assumidamente pop-rock, embora com algumas nuances de funky em algum temas ( nomeadamente no sublime “ Ele, Ela e a Cidade”,a nova versão de Telenovelas de 1996 ), depois por se tratar de um disco com uma produção cuidada no seu todo, conferindo-lhe assim uma homogenidade sonora e musical, uma vez que nada foi deixado ao acaso, gravado sem pressas desesperadas de finalização estética, e sobretudo, por se tratar de um disco conceptual, como todas as canções centradas na temática do amor e do mar. (Podemos mesmo dizer, com a certeza absoluta de que José Cid concordará connosco, que o novo disco de José Cid é o resultado da combinação explosiva daquilo que o amor e o mar nos podem oferecer quando conjugados entre si). E por fim, coerência que se manifesta também em termos de escrita, no qual José Cid vai buscar os suspeitos do costume no que toca à autoria das letras das canções: a poetisa Maria Manuel Cid, autores clássicos e contemporâneos como David Mourão Ferreira e Almeida Garrett, Ana Sofia Cid, e claro, o próprio José Cid.

Mais do que “ De Surpresa”, "Coisas de Amor e do Mar", surge-nos com um som fresco e actual por parte de um capitão Cid, nitidamente despreocupado com as pressões de fabricante de sucessos que outrora sobre si recaíam. No entanto, apesar dessa despreocupação, facilmente se poderão retirar cinco ou seis possíveis singles de sucesso imediato. Canções como “Todas as mulheres do mundo”, “+ um dia” ( genérico da telenovela da TVI Doce Fugitiva e single de apresentação do disco) e “Só eu tu e o vento” são disso um exemplo. Por outro lado, numa vertente menos comercial surgem-nos ligeiros desvios à coerência do disco, no reinventar de temas dos anos 90 como o já referido Telenovelas ( agora sobre o nome de Ela, Ele e a Cidade), "E por Vezes" ( em dueto com Susana Félix) e, sobretudo, o muito bem conseguido dueto com Luís Represas. Neste dueto, José Cid a bom tempo recuperou o tema “No meu veleiro”, com letra e música de sua autoria, primeiramente cantado pela desconhecida Paula em 1993 sob o nome de “No meu barquinho” e posteriormente por José Cid, sob o nome de “Mudança”, em 1994, do albúm “Vendedor de Sonhos”.
Com todo o respeito pelos outros convidados de José Cid no disco ( Susana Félix e André Sardet), a escolha de Luís Represas para interpretar em dueto “O meu veleiro”, para além parecer ser a única escolha possível, devido às caracteristicas da sua voz, culmina na sua versão definitiva, visto que o encaixe da voz de Luís Represas nesse tema atinge a perfeição, ao ponto de ser totalmente legítimo pensar até que poderiamos bem estar perante um tema retirado de um disco do próprio Luis Represas !
Da nossa fica então o registo positivo do regresso de José Cid aos discos de originais, restando-nos aguardar agora pelo lançamento dos discos já gravados e ainda não lançados tais como “ O menino prodígio”, “Quem tem medo de baladas ?” “ Fados e Fandangos” e “Vozes do Além” ( o aguardado disco de rock progressivo, ainda em gravação ).
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