sábado, 30 de maio de 2009

We'll meet again

Ao longo de mais de 40 anos de registos musicais, têm sido imensas as participações de José Cid nos Festivais da Canção, seja como interprete, seja como compositor. Por essa razão, José Cid pode vangloriar-se de ter sido, até ao momento, o músico que mais vezes participou nesse festival. Contudo, não podemos dizer que os resultados tenham sido sempre os esperados e os mais merecidos. Sem desconsiderar outras brilhantes canções (irremediavelmente melhores que algumas das canções que José Cid apresentou no Festival da Canção) ainda hoje muitos críticos tentam compreender, por exemplo, como é que “ No dia em que o rei fez anos” não ganhou o Festival da Canção de 1974, ou porque razão o tema “ Vinte anos”, nem sequer foi aceite para a selecção final do Festival da Canção de 1973. Reflexo ou não de alguma dose de injustiça, José Cid tem sido o campeão dos segundos lugares no Festival da Canção, situação que, aliás, é ironicamente retratada na colecção de banda desenhada Pop Rock Português”, da recente edição Tugaland de 2008.
Todavia, em 1980 (uma vez que o Destino, enquanto não se consolida, também é susceptível de mudança), José Cid alcança finalmente o primeiro lugar do Festival da Canção, cantando "Um Grande, Grande, Amor", com letra e música de sua autoria e brilhantes orquestrações de Mike Sergeant. Na verdade, com o tema “ Um grande, grande amor” tudo parecia estar encaminhado para que finalmente Portugal pudesse suspirar por um desfecho mais favorável na Eurovisão, capaz de superar o 7.º lugar de Carlos Mendes em 1972. Efectivamente, pese embora a banalização que “Um grande, grande amor” alcançou posteriormente, o certo é que em pleno ínicio da década de 80 José Cid apresenta no Festival da Eurovisão um tema provido de um beat rapido, uma semi mescla de rock vertido na ligeireza de disco sound com arranjos esmerados e, como tal, perfeitamente enquadrável no ambiente de festa da Eurovisão e da (suposta) linguagem universal que esses festivais transbordam...A própria letra da canção é um reflexo dessa linguagem universal, pela utilização de um refrão em várias idiomas ( português, inglês, francês e alemão), no qual José Cid nos primeiros versos canta: “Adio, adieu,auf wiedersehn, good bye, Amore, amour, mein liebe, love of my life “.

Numa altura em que, a transmissão dos Festivais Eurovisão da Canção, ainda tinha um significado especial para a população europeia em geral e para a portuguesa em particular, foram milhões de telespectadores que não arredaram pé de frente do televisor e que assistiram à vitória do irlandês Johnny Logan, no 25.º Festival da Eurovisão da Canção de 1980, realizado em Haia, no dia 19 de Abril de 1980. A canção vencedora chamava-se “ What's Another Year”, uma balada romântica, que no final da votação do jurí totalizou 143 pontos. Em relação à participação portuguesa, José Cid, quedou-se pelo 7.º lugar com 71 pontos.
Apesar de um sétimo lugar poder ser considerado um resultado brilhante para qualquer artista no âmbito do Festival Eurovisão da Canção, o certo é que, após o terminus do festival, se constatou um sentimento de elevada injustiça na classificação portuguesa. Com efeito, para além da evidente inferioridade de muitas das canções que ficaram à frente da canção portuguesa, foram também muitos os concorrentes que nos bastidores davam José Cid como o candidato favorito à vitória final. Por mera curiosidade, retiramos um excerto de um artigo da imprensa da época sobre o referido festival que ilustra de forma simples e precisa o ambiente de desilusão e as eventuais causas do “ fracasso” de José Cid na Eurovisão de 1980 “ Segundo o próprio José Cid, aquela semana de convívio com o pessoal do Festival da Eurovisão de 1980, terá sido o mais importante triunfo da sua notável carreira artística. Muitos diziam, desde o primeiro momento, que ele seria o vencedor indiscutível e em boa verdade, se não fossem os bens conhecidos jogos de bastidores sujeitos aos altos trusts internacionais das empresas gravadoras, na realidade José Cid seria o indiscutível vencedor do Eurofestival de 1980. Mas o talento e o trabalho profícuo pouco valem perante certos interesses... José Cid não ganhou o Eurofestival de 1980, mas foi, sem dúvida, o maior da Europa... Quem é capaz de o pôr em duvida ?
Já após o sétimo lugar de José Cid, já Lúcia Moniz em Oslo no ano de 1996, alcançou um brilhante sexto lugar, embora com um registo musical totalmente diferente. No entanto, com o passar dos anos, e com a mudança total das regras do Festival da Eurovisão, a verdade é que as possibilidades de Portugal alcançar uma classificação superior ao 6.º lugar de Lúcia Moniz, serão cada vez mais remotas. Com a crescente tendência para que concorrentes ao Festival se apresentem a concurso com canções cantadas noutras línguas, nomeadamente o inglês, ( facto que já ocorreu com a participação portuguesa de 2005) , uma pergunta se coloca necessariamente: Qual teria sido a classificação de José Cid caso o mesmo tivesse cantado a canção “ Um grande, grande amor” em inglês, em detrimento do português ? Não sabemos. Cremos que, devido aos interesses subjacentes a tão famoso festival, que jamais Cid teria ficado em primeiro lugar embora seguramente muito acima do 7.º lugar alcançado. ( Não fosse o Destino de José Cid bater-lhe à porta e alcançaria mais um segundo lugar.... )
Contudo, facto menos conhecido da generalidade dos apreciadores de José Cid, é que, após o êxito do festival, e visando mais uma tentativa de internacionalização, o Artista gravou uma versão em inglês da canção um “Um grande, grande amor”, distribuído pela etiqueta alemã Jupiter Records, com o renovado título de “ We'll meet again/Barbara” ( Jupiter Records – Gema – 132 035). Na nossa opinião, e com o devido respeito pela nossa amada língua portuguesa, “We'll meet again” é talvez a versão definitiva de “Um grande, grande amor”, na medida em que o ouvinte à medida que percorre os quase quatro minutos de “We'll meet again”, jamais poderá associar esta canção a uma versão de uma canção anterior, bem pelo contrário: "We’ll meet again" apresenta um som fresco, com uma mensagem manifestamente universal. Nunca a utilização da língua inglesa por parte de José Cid teve tanto impacto numa canção senão em “We'll meet again”, na qual os afinados e poderosos coros a ajudam a tornar-se perfeita.”. Não temos dúvida em afirmar que se “We'll meet again” tivesse feito, por exemplo, parte do reportário dos ABBA, ou de outros grupos de entretenimento dos anos 80, que o conhecimento por parte do público desta canção seria irremediavelmente outro. Como assim não sucedeu, “We'll meet again” continua a ser uma das canções de José Cid menos conhecidas dos portugueses, e cuja edição em CD ainda não existe, nem estando sequer prevista uma qualquer data ou projecto, para inclusão desta canção em qualquer projecto relacionado com a discografia de José Cid. Da nossa parte, resta-nos através deste honesto artigo de opinião, contribuir para o seu não esquecimento.
( Fotos alusivas à participação de José Cid no Festival da Canção em Haia, 1980)

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sábado, 16 de maio de 2009

Springtime of my life

A relação de José Cid com a cultura musical anglo saxónica é demais evidente, não tivesse sido nela que José Cid colheu parte da inspiração para os seus primeiros sucessos enquanto compositor. Contudo, José Cid não se limitou apenas a transpor para a música portuguesa os padrões da cultura pop rock, criando também composições que exploravam as temáticas seculares da tradição popular portuguesa. Os primeiros singles e EP's do Quarteto 1111 são disso um exemplo, onde temas como “Balada para D. Inês”, ou a “Lenda de El Rei D. Sebastião” se encaixavam perfeitamente no estilo de versos então toleráveis pela Censura. No entanto, e na sequência do que já aqui escrevemos anteriormente, José Cid, devido ao perfeito à vontade com que compreende a mensagem da canção pop rock, é também um cantor que interpreta como ninguém as canções escritas em língua inglesa. Não estranhou por isso, que em 1970 gravasse, pela primeira vez, uma canção em inglês ( Back to the country), experiência que viria a repetir, mais tarde, no início da década de 80, bem como no inicio do novo milénio, com algum reconhecimento pela crítica portuguesa e, sobretudo, pela internacional.
Springtime of my life” foi uma das canções que José Cid gravou em inglês e que só recentemente, em 2006, foi incluída em formato CD na colectânea “Antologia Vol. II.” Trata-se de uma balada que José Cid gravou no inicio dos anos 80, em Los Angeles para a editora Family, com produção de Mike Gold ( produtor que antes trabalhara com Frank Sinatra, entre outros), no seguimento da apresentação do seu anterior trabalho “ My Music”, todo ele também interpretado em inglês.
Ao longo dos anos, embora não de uma forma totalmente errónea mas quase sempre de forma redutora, José Cid tem sido considerado como uma espécie de Elton John português, opinião que não partilhamos, por sabermos que aqueles que assim o consideram, quase sempre o fazem partindo de um pressuposto (errado) de que, tanto Cid como Elton John, se resumem a cantores românticos e meros criadores de baladas de audição fácil. Apesar de não acompanharmos os discos mais recentes de Elton John, não deixaremos de considerar como excelentes os magníficos albuns deste último como “Honky Chateau”, “Empty Sky” ou o mundialmente conhecido “ Goodbye Yellow Brick Road”, através dos quais Elton John se junta ao grupo de cantores dos anos 70 que, de uma forma mais ou menos conseguida, conseguiram abrilhantar o glamour do rock and roll, oferecendo-lhe uma dimensão definitivamente mundial.
Apesar do nosso desacordo com a analogia total entre Cid e Elton Jonh, não podemos ficar indiferentes à canção Springtime of My Life (José Cid/Mike Sergeant), na qual as parecenças entre os dois cantores são demais evidentes, nomeadamente no timbre de voz de José Cid, que ao cantar “Springtime of My life” acaba por ancorar na construção típica das canções que Elton John tem habituado os seus seguidores nos últimos anos. Na verdade, tendo este último abandonado definitivamente o rock&Roll esgalhado de “ All the girls love Alice”, em favor de baladas mais suaves, é de todo legítimo que, por breves momentos, os seguidores dos dois artistas possam comparar e até associar os dois músicos a uma determinada cultura musical específica. Com efeito, não só o próprio percurso musical dos dois foi relativamente idêntico (começaram a gravar sensivelmente na mesma altura), como também ambos estiveram presentes no Festival de Vilar de Mouros em 1971, tendo ainda ambos escrito belas canções rock ou pop rock, para além das indissociáveis parecenças físicas que entre os dois muitas vezes são referidas... No entanto, cremos que as semelhanças se ficam por ai, uma vez que Elton John não gravaria um disco de fado, de rock progressivo, de musica folk, ou um disco cantado numa outra língua; a versatilidade de José Cid permitiu-lhe ter simultaneamente uma dimensão de camaleão e de dinossauro, enquanto que Elton John, por se ter mantido quase que sempre fiel ao seu género musical, apenas se pode considerar um dinossauro da música mundial (... e já não é nada pouco!).
Não querendo parafrasear por demais as palavras do Artista, mais uma vez relembramos neste blogue a famosa frase de José Cid, que farto de comparações disse: “ Se Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tanto sucesso como eu”. A verdade é que jamais saberemos se tal facto seria verdade ou não. Apenas podemos dizer que quem ouve uma canção de José Cid cantada em inglês (por exemplo, aleatoriamente, uma canção do disco “My Music” ) e a compare com uma canção de um ou outro grande artista estrangeiro, jamais poderá dizer que as musicas de Cid são de qualidade inferior, bem pelo contrário. “Springtime of my life” não foge à regra das canções que teria feito sucesso necessariamente no estrangeiro se tivesse sido cantado por um David Bowie, Brian Ferry ou, acima de tudo, por um Elton John.
Pouco tempo mais tarde, a versão portuguesa de “ Springtime of My life”, foi incluída no álbum “Magia” de 1982, com o título de “ Na manhã do meu viver”. Curiosamente, em 1983, aquando da elaboração da colectânea “Portuguesa Bonita” ( 1983 - Orfeu FP 6022), que compilava no mesmo disco canções do albúm “ Canta Coisas Suas” e “Magia”, a versão escolhida para figurar no disco ( tanto na edição portuguesa, como na edição americana), foi a versão cantada em inglês, em detrimento de “Na manhã do meu viver”, cantada em português. Pensamos que, caso a intenção da editora ao lançar para o mercado o LP “Portuguesa Bonita” fosse a de elaborar um espécie de “best of”, então nesse caso, a escolha pela versão inglesa, talvez tenha sido a mais acertada.
É do LP “Portuguesa Bonita” de 1983, versão americana, distribuído pela Editora Henda Records (Henda Records 447), sob licença de Rádio Triunfo, que retiramos o excerto de “Springtime of My life”, para partilha com os nossos leitores. Espero que descubram diferenças, embora admitamos, dando o braço a torcer, que será difícil.

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sábado, 9 de maio de 2009

No tempo em que Toninho lanchava c' os amigos na Pastelaria S. Bento

Se no lado A do single "Portugal É..." (1975, Decca SPN 182) José Cid explora a sua capacidade em aproveitar os sons galácticos emanados do sintetizador e do seu mellotron, já no lado B José Cid deixa a cargo de Mike Sergeant a tarefa de abrilhantar a canção “ No tempo em que o Toninho lanchava c'os amigos na Pastelaria S. Bento”, criando um rock sarcástico, irónico, seco mas divertido, onde o som de slide guitar e “lead guitar” do músico escocês se cruzam perfeitamente com a voz trabalhada de Cid, que nos conta a história de um certo Toninho,o qual, durante muitos anos, conviveu com os seus amigos na “Pastelaria de S. Bento”, numa clara alusão à figura de Salazar e seus assessores. É pois a ironia, conjugada com voz propositadamente enfraquecida de Cid, que eleva o lirismo desta canção a um patamar nitidamente superior. A consistente caracterização de Toninho enquanto um fóssil muito fóssil e simultaneamente pouco dócil, está bem vincada no refrão da canção, remetendo a memória do ouvinte para a figura de um chefe de estado com saúde nitidamente enfraquecida, de voz dócil mas que ao mesmo tempo tomava medidas pouco dóceis de proteccionismo, em abono de um ideal de imperialista que, em abono da verdade, já não era partilhado por muitos, senão por aqueles que os rodeavam, os tais amigos da Pastelaria “ S. Bento” que a tudo diziam que sim. Os primeiros versão da canção são disso um exemplo: “Reuni esta assembleia/ para lhes propor um ideia/ que ainda hoje me ocorreu há pouco tempo:/ Mandem enjaular a besta/ que se atreva a dizer não/ como simples medida de precaução./ Sou um fossíl muito fossil/ era um fossíl pouco dócil...”
No tempo em que o Toninho lanchava com os amigos na Pastelaria S. Bento”, é seguramente, até à presente data, o título mais comprido que José Cid atribuiu para uma canção sua. Foi também durante muitos anos, uma das canções menos conhecidas de José Cid, pois apenas em 2007, o disco # 2 da Colectânea “ Pop Rock & Vice Versa” lhe fez justiça, tendo esta canção sido incluída pela primeira vez em formato CD, e com um som nitidamente melhorado.
No tempo em que o Toninho lanchava c' os amigos na Pastelaria S. Bento” é mais um exemplo da plena versatilidade de José Cid enquanto músico capaz de explorar todos os estilos e géneros musicais. Por mero exemplo, o single que se lhe seguiu foi nada mais nada menos do que tema de raiz popular, “ Quadras Populares”, conforme o próprio nome da canção assim o indica. A todas estas mudanças e apelos a uma nova aventura musical de José Cid, correspondeu sempre Mike Sergeant, que após ter abrilhantado o épico “ Onde, como, Quando, Porquê... Cantamos Pessoas Vivas” não hesitou em acompanhar José Cid nas suas aventuras musicais ao longo de toda a segunda metade da década de 70 e inícios da década de 1980, contribuindo, de sobremaneira, para consagrar de forma definitiva esses tempos como o período de ouro da carreira a solo de José Cid.

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Portugal É....

Poucos dias depois de se terem comemorado 35 anos após o 25 de Abril de 1974 e do habitual renascimento radiofónico de velhas canções de protesto da autoria de muitos cantautores portugueses, surgimos esta semana com a análise de uma canção que pretende colocar em contraposição o contributo de José Cid no contexto da música portuguesa no pós 25 de Abril, comparando as suas canções com aquelas que os cantautores lançavam para o mercado discográfico da altura. Sem desprimor por nomes como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, José Mário Branco e outros tantos (para falar só dos mais conhecidos) José Cid, ora enquanto membro do Quarteto 1111, ora a solo, cedo se aventurou em sonoridades até então inexploradas na música portuguesa, embora nunca tivesse conseguido, pelo menos até ao 25 de Abril, transpor para a opinião pública uma ideia geral de oposição ao regime ditatorial da época. Bem pelo contrário; a popularidade de José Cid, após a transformação do Quarteto 1111 nos Green Windows, aliada à sua participação em festivais da canção (eventos nos quais as letras das canções eram cuidadosamente passadas a pente fino pelos "homens de lápis azul") poderá ter contribuído para um sentimento, totalmente errado, de que José Cid era um conservador e um conformista nato. Nada de mais errado se poderia pensar! Desde logo, porque o próprio Quarteto 1111 teve discos que foram proibidos de imediato pela Comissão de Censura; por outro lado, no contexto da época (finais dos anos 60), a divulgação de discos de Rock em Portugal era quase inexistente e o conservadorismo da nossa sociedade apenas tolerava discos de yeh yeh, onde significado das palavras pouco importava para quem os escutava, contrariamente ao som psicadélico do Quarteto 1111, de audição não facilmente tolerável pelos mais conservadores. No entanto, na nossa opinião, o principal motivo para que o nome de José Cid não estivesse conotado à musica de cariz mais social dos anos 70, foi o facto de o próprio Artista nunca ter pretendido associar as suas composições a qualquer movimento político, compondo sempre de forma descomprometida em relação a qualquer rótulo, fosse ele de esquerda ou de direita.
Numa outra perspectiva, já no âmbito do pós 25 de Abril, proliferaram no contexto músical português toda a espécie de estilos musicais associados ao conçonetismo de cariz político e de intervenção. Aliás, grande percentagem do chamado canto de intervenção teve o seu auge no pós 25 de Abril, repartido entre os anos de 1974 e 1977, não só através da balada/canção, como também pelo fado (principalmente o humorístico) musica ligeira, marchas militares e, sobretudo, grupos corais. Tal como os outros, José Cid, não fugiu à regra e compôs entre 1974 e 1975 algumas canções que ilustravam bem a nova mudança na sociedade portuguesa; sem esquecer os arranjos da canção de Ermelinda Duarte “ Somos livres” entregues a José Cid, da sua autoria resultou também o single “ Quadras Populares” ( ainda com os Green Windows), “ A festa do Zé” ( em torno do fim da Guerra na Guiné Bissau) e, antes de todas essas canções, duas das mais brilhantes composições de José Cid dessa época: "Portugal É..." e “ No tempo em que o Toninho lanchava com os amigos na Pastelaria S. Bento”, gravadas em 1975, as quais compunham o single “ Portugal É” ( Decca SPN 182).
Ao lançar para o mercado "Portugal É...", em Março de 1975, José Cid não apela a um patriotismo descontrolado, nem a uma critica desgovernada aos sucessivos governos de transição da altura, nem tão pouco utiliza a canção como arma de propaganda política. Tal como outros também o fizeram, José Cid apela antes a uma unidade nacional em torno de um pais ainda por inventar, em plena construção, como bem ilustram os seguintes versos “ Portugal é toda a gente/que tu queiras abraçar/A quem falar de liberdade/sem a enganar/ Portugal, uma criança/ a sorrir na madrugada/Uma caminho sem fronteiras/ que te aguarda.” No entanto, se facilmente se pode concordar que a temática desta canção, para a época, não deixava de se considerar relativamente recorrente, ou mesmo banal, o mesmo já não se poderá dizer em relação à instrumentalização de "Portugal É...." arborizada numa sonoridade vanguardista, simultaneamente fresca e inovadora. Sem entrar em pretensões demasiado elevadas, podemos arriscar em dizer que se contam pelos dedos, os cantautores que se socorreram de sintetizadores e de mellotrons para arranjarem as suas canções. E é nesta vertente, de inovação, que José Cid sempre se destacou, não só neste tema, bem como nos temas de cariz mais intervencionista do pré 25 de Abril, que mais para a frente analisaremos. Por essa razão, "Portugal É..." não se limita a ser apenas mais uma excelente canção de José Cid; a sonoridade a ela associada é também o prenúncio para um novo caminho sem fronteiras na música portuguesa, que teve em José Cid um dos seus primeiros impulsionadores.
Ainda assim, "Portugal É ..." trata-se de uma das muitas canções de José Cid que nunca chegou a ser incluída em nenhum dos seus discos a solo. No entanto, para além de disponível em vinil no homónimo single de 1975, na colectânea da EMI VC “ Antologia da Música Popular Portuguesa José Cid “ ( 1977, EMI 11 C 074 40532) e na colectânea “ O melhor de “ ( 1990, EMI – VC 7946481 – 2 LP, também CD), encontra-se também disponível para audição em formato CD nas colectâneas “ Grandes Êxitos de” ( 2006, EMI 0946 374097 25 – sucedâneo da anterior colectânea “A rosa que te dei” das Edições Caravela) e, com excelente qualidade de sonora, na recente colectânea da etiqueta IPLAY, sob licença da Valentim de Carvalho “ O melhor de José Cid” ( 2008, IPV1391 2). Aconselhamos vivamente a sua audição.

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