segunda-feira, 27 de abril de 2009

Uh ! Au ! Lobo Mau

Em 1986, José Cid grava o seu primeiro álbum para a Editora Polygram, acompanhado por uma banda composta maioritariamente por seus familiares, adequadamente apelidada de Banda Tribo, explorando uma nova sonoridade, bem mais simplificada, notoriamente marcada pelo som típico dos anos 80. O resultado da colaboração de José Cid com a Banda Tribo foi o disco “Xi-Coração”, recentemente reeditado em 2003 pela Polygram em formato CD. Um dos temas não incluídos no álbum, editado apenas à posteriori em 1987 em formato single, foi o tema “Uh! Au! Lobo Mau!” (Polygram 888 731-7, com a balada “”, no lado B), que hoje nos merece especial atenção.
Devemos referir, antes de introduzirmos a temática deste tema, que em Portugal na década de 70 e 80 abundavam as colecções de discos de vinil com histórias populares infantis, nomeadamente as versões adaptadas de Odette de Saint Maurice, que encantavam o dia a dia dos nossos meninos. Uma dessas histórias, que em bom rigor toda a gente conhece, é a história da “Menina do Capuchinho Vermelho”, que se deixou enganar pelo Lobo Mau, numa versão infantil, ternamente encantadora. No entanto, não foi com certeza com o intuito de criar um cenário amorosamente primaveril que José Cid recriou à sua maneira a história do capuchinho vermelho, quando se propôs a gravar juntamente com Chico Martins (guitarras eléctricas), Zé Paião ( viola baixo) e Ana Sofia Cid e Zé Nabo ( coros) a canção “Uh! Au! Lobo Mau!”. Bem pelo contrário: esta canção é uma verdadeira paródia em comparação com todas as anteriores versões musicais deste conto infântil. Na verdade, inverteram-se os papéis e ridicularizaram-se as personagens. Por um lado José Cid, na pele de lobo mau, reclama para si a menina do capuchinho vermelho, para depois levá-la para a floresta e chamá-la de “lobinha”, ao mesmo tempo que se mostra farto dos conselhos prudentes da avozinha do capuchinho vermelho. Conforme canta, José Cid pretendeu neste irónica canção, desmistificar a história já gasta da avozinha, numa clara alusão ao facto de, nos tempos de hoje, já não existirem capuchinhos vermelhos perdidos na floresta. (Nem lobos, diga-se de passagem...). Para a história da já extensa discografia de José Cid fica mais uma excelente canção, a nosso ver o melhor tema de José Cid acompanhado pela Banda Tribo, no qual o nosso também conterrâneo Chico Martins, assina um excelente trabalho de guitarra, harmoniosamente apadrinhado pelos afinados coros dos lobões e das meninas de capuchinho vermelho, entretanto já transformadas em lobinhas.
Até 2007, a canção “Uh! Au! Lobo Mau!” esteve indisponível para audição por parte dos apreciadores de José Cid em formato de CD, altura em que foi incluída no disco 2 da Colectânea PoP Rock & Vice-Versa, editada pela Farol Música. Para aqueles que apenas hoje pela primeira vez, tomam contacto com este tema menos conhecido de José Cid, aqui fica o nosso contributo para a sua divulgação.

Clique no Play para ouvir um excerto da canção

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Pedro

Desde que descobri o seu blogue que o tenho seguido com muito interesse, visto ser um espaço que vem contrariar uma lacuna grande patente no nosso país – o esquecimento/desconhecimento da obra multifacetada do José Cid. Portanto, e desde já, os meus sinceros parabéns por este “acto de amor”, como o Bissaide o caracterizou num dos seus comentários.
Sendo um grande fã da obra do Mestre, tenho também o sentimento generalizado que vem pautando as suas intervenções neste blogue – a dificuldade, ou até impossibilidade, de encontrar certos registos discográficos de José Cid. Daí que tenha decidido expor aqui um comentário fazendo referência a uma edição não oficial de uma compilação da obra do artista, editada em 1995 pelas Selecções do Reader’s Digest, que faz a cobertura em, quatro CD’s, do período que medeia entre o lançamento, pelo Quarteto 1111, da “Lenda de El-Rei D. Sebastião”, de 1968, até ao desaparecido “Vendedor de Sonhos”, de 1994. Perante a escassez de discos de José Cid disponíveis para comercialização, esta edição é, para mim, de valor acrescentado. A crítica maior que lhe faço prende-se com a existência de uma hiato entre 1984 e 1987, ou seja, não contem nenhuma canção dos dois primeiros álbuns do Cid para a Polygram (Xi- Coração e Fado de Sempre), nem os singles “Moura Encantada” (1984), “Noites de luar/Sonhador” e “Saudades de ti/Na rádio” (1985) e “Uh! Au! Lobo mau” (1987). Por outro lado contém algumas “raridades”, salvo ignorância minha, que passo a descrever:

- “A minha música” – versão com percussão diferente da incluída em “Antologia – Nasci prá Música” da Movieplay;

- “No dia em que o rei fez anos” – com os Green Windows, mas diferente da versão que consta no recentemente editado “O Melhor de José Cid”, da Valentim de Carvalho;

- “O meu piano” – versão também diferente da incluída em “Antologia – Nasci prá Música”, ao nível das vocalizações mas, sobretudo, na alteração do último verso, de “adeus, amor, adeus” para “e os erros que fizer são meus”;

- “Camarada” – o primeiro tema do lado A do EP com o mesmo nome, editado em 1972, que julgo não ter ainda edição oficial em CD.

- Do álbum “Vendedor de Sonhos” – “Bola de Cristal”, “Mulher (quero cantar para ti)”, “Mudança”, “O poeta, o pintor e o músico”, “Não tenho lágrimas”, “Lobos e andorinhas” e “Vendedor de sonhos”;

- Do álbum “José Cid”, de 1989 – “Coração de papelão” e “Cai neve em Nova Iorque”.

- “Nova Epopeia”, do álbum “Camões, as Descobertas… e Nós”, de 1992, último tema do álbum e um dos dois cantados pelo próprio Cid, para além de “Prólogo”, o tema de abertura;

- “Glória, Glória Aleluia” – versão que, segundo li no blogue, pertence à edição brasileira do disco “José Cid” de 1971, com mais de 5 minutos de duração.

O booklet do álbum contém várias fotografias e um texto de Mário Martins, antigo Artistas & Repertório da Valentim de Carvalho.
Se estiver interessado em mais informações ou nas capas do disco, contacte-me para o meu mail.


Cumprimentos
Henrique Claro
henriquemdpclaro@hotmail.com

João Pedro disse...

Muito boa tarde, caro Henrique.
Obrigado pela visita e pelas preciosas informações. Este blogue está aberto a toda as pessoas que queiram contribuir com informações sobre a discografia de José Cid. Já lhe respondi de forma menos telegráfica por email.
Muito obrigado pelo incentivo. João Pedro