Os anos que se seguiram logo após a passagem de José Cid da editora Valentim de Carvalho para a Orfeu de Arnaldo Trindade, em 1976, coincidiram também com a aproximação de José Cid a uma abordagem musical mais contida dentro dos parâmetros da música nacional de então, altura em que José Cid começou a explorar a música popular, o fado e a música ligeira. Os lados A's de singles como “A Anita não é bonita”, “O largo do Coreto” ou “Aqui fica uma canção”, são dessas novas roupagens musicais um exemplo. Pese embora a mudança, o carácter multifacetado de José Cid permaneceu intacto, tendo os seus seguidores nos anos 70 aguardado sempre com alguma incógnita qual o registo musical que José Cid iria escolher para se apresentar nos singles que, entretanto, se seguiam num ritmo desenfreado, um após o outro. Com efeito, entre 1977 e 1979, a editora Orfeu lançou para o mercado mais de uma dezena de singles de José Cid, com canções que ainda hoje facilmente se identificam como alguns dos seus maiores sucessos, tendência que se prolongou até 1985, ano em que José Cid terminou os seus trabalhos para aquela etiqueta discográfica, com o lançamento do seu último single “Saudades de ti/Na rádio”. Os lados A's dos singles de José Cid para a editora Orfeu durante os anos 70, constituíram grandes sucessos e actualmente encontram-se facilmente disponíveis no duplo CD “Antologia -Nasci para a música”. O mesmo já não se poderá dizer dos lados B's que, quase por definição, se encontram quase sempre renegados para um segundo plano, por serem, supostamente, segundas escolhas dos seus autores, numa lógica de estratégia de conquista de mercado discográfico reservada aos lados A's. No entanto, somos da opinião que, no caso particular de José Cid, os lados B's dos seus singles ofereceram aos seus ouvintes alguns dos seus melhores registos e, quem sabe, até mais interessantes do que muitos dos seus lados A's. Um desses temas é a canção “Branca Flor”, lado B de um dos singles mais populares de José Cid, “A minha música” ( 1978, Orfeu Ksat 646 ), no qual José Cid assina um dos seus singles com maior dualidade e contraste musical entre uma e a outra face do mesmo disco. Se por um lado em “A minha música” José Cid canta (em pouco mais de quatro minutos) num rock acelarado a história da sua vida, na outra face do single José Cid oferece-nos uma bossa nova, transportando-nos para um cenário auditivo que nos remete para um entardecer tropicalmente quente, harmonicamente jazzado, mostrando-nos toda a sua criatividade, recorrendo a um perfeito piano eléctrico e a diversos efeitos, os quais se encaixaram perfeitamente nos (também eles contrastantes) dias de chuva e de sol retratados em “Branca Flor”. Na ausência de flautistas como Herbie Mann ou Paul Horn para abrilhantarem ainda mais este tema, é o próprio José Cid que harmoniza a instrumentalização de “Branca Flor”, recorrendo aos seus teclados, criando os sons de flauta que atravessam “transversalmente” toda a canção, permitindo assim que uma composição liricamente muito simples transmita emoções fortes aos seus ouvintes, principalmente a todos aqueles que (num dia de chuva) viram outra pessoa roubar-lhes a branca flor que tanto amavam até então. Para os que percebem a evidente metáfora que José Cid utiliza nessa bela canção, resta-lhes esperar por dias de Sol, embora sempre com a consciência de que mais nenhuma flor se assemelhará à Branca Flor que José Cid tão bem canta nesta bossa nova que hoje partilhamos com os nossos leitores.
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O tema "Branca Flor" também se encontra disponivel na recente Antologia Vol. II
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