sábado, 8 de outubro de 2011

Amanhã, Amanhã

Independentemente das divergências sobre a qualidade da música que José Cid gravou para a Editora Orfeu, a verdade é que foi para esta editora que José Cid alcançou os seus grandes sucessos através da edição quase que sucessiva de discos de ouro e de platina. A única excepção parece ter sido, aquando da formação dos Green Windows, o single "Vinte anos" - gravação efectuada ainda durante os anos em que José Cid era um artista contratualmente ligado à Valentim de Carvalho ( sua primeira e única editora até então) - o qual perdura, até hoje, como o seu maior sucesso.

Só depois de ter vencido o Festival da R.T.P. da Canção em 1980 é que José Cid pode finalmente entrar para a galeria dos artistas que mais vendiam em Portugal e dos mais respeitados pelo público em geral. Tornava-se assim imperioso que a Editora Orfeu lançasse para o mercado uma colectânea com os maiores êxitos de José Cid numa estratégia comercial de sucesso quase que garantido à partida e, por outro lado, como factor de reconhecimento de um artista cuja música, até então, dividia ainda sectorialemente a opinião pública.

Não se estranhou assim que, num disco duplo de nome " Os grandes, grandes sucessos de José Cid", constassem todos os lados A's dos singles que José Cid tinha gravado para a Editora Orfeu desde 1976 até à data de lançamento do duplo L.P. e ainda alguns dos temas de um dos álbuns gravados em nome próprio durante esse período, " José Cid Canta Coisas Suas", tendo sido excluído do alinhamento dos grandes sucessos de José Cid todo e qualquer tema do álbum "10.000 anos depois entre Venus e Marte".

Contudo, o grande interesse desta colectânea de êxitos é o facto de a mesma não ter sido apenas um recompilatório da discografia de José Cid. Na verdade, a Editora aproveitou igualmente para juntar à colectânea uma versão do tema "Vinte Anos", gravado pela primeira vez em nome próprio por José Cid, bem como alguns temas originalmente da fase " Valentim Carvalho" regravados por José Cid para a Editora Orfeu e que viriam a ser incluídos também neste Duplo LP. Porém, nesta colectânea José Cid não se limitou a brindar os fãs com a regravação de alguns dos seus maiores sucessos uma vez que neste álbum aparecem pela primeira vez temas nunca antes ouvidos pelo público em geral, pertencendo, assim, tais canções à categoria de inéditos. Referimo-nos, por exemplo de "Gloria Gloria Aleluia" ( canção originalmente escrita para Tonicha, representante do Festival Ibero Luso-Americano de 1971 ) e "Amanhã, Amanhã", uma canção com letra e música de José Cid, gravada originalmente por José Cheta, em 1972, acompanhado pelo Quarteto 1111 ( ou pelo que restava dele).

Relativamente a esta última canção não podemos deixar de referir que se trata de um dos nossos temas preferidos de José Cid, em boa hora reaproveitado pois a sua interpretação suplanta, em muito, a interpretação quase que monocórdica de José Cheta gravada anos antes para a Valentim de Carvalho. Nesta interpretação, José Cid em plena força e capacidade vocal socorre-se de uma instrumentalização adequada a uma canção de esperança para aqueles, que por uma ou outra razão, se encontram desiludidos ou resignados com as contrariedades da vida. Trata-se, assumidamente, de uma canção dirigida provavelmente a um destinatário especial mas que, bem vistas as coisas, pode até ser qualquer um de nós quando ( ainda que momentaneamente) pensamos que da própria vida nada mais podemos esperar. Enganamo-nos, pois, claro. Há sempre que ter esperança no dia de amanhã e é isso que nos move para um futuro melhor.

Resta-nos a dúvida de saber se esta canção foi gravada ainda durante os anos em que José Cid estava contratualmente ligado à Valentim de Carvalho e cedida "gentilmente" por esta Editora para completar a colectânea ou se foi mesmo regravada à data do lançamento deste duplo disco com os músicos habituais de José Cid dessa altura ( Mike Sergeant, Ramón Galarza e Zé Nabo). Um dúvida que não conseguimos ver esclarecida até à publicação desta mensagem, desde já apelando aos conhecimentos dos mais entendidos nesta matéria.

"Amanhã, Amanhã", foi posteriormente versionada por outros artistas, encontrando-se a versão do próprio José Cid também disponível no duplo CD Antologia # 2.




Clique no Play para ouvir um excerto de "Amanhã, amanhã"

2 comentários:

dcor disse...

ouço algumas vezes na Rádio Província :)


Nas compilações costuma ter uma data associada a cada canção. Nesta não terá?

vmcreis disse...

Este é um dos temas do Cid de que gosto mais. Está ligado ao meu imaginário de infância, e foi muito recentemente que o "redescobri". Fiz uma modesta homenagem a esta canção e coloquei-a aqui: http://www.youtube.com/watch?v=i3BqjdyWY1A