Poucos dias depois de se terem comemorado 35 anos após o 25 de Abril de 1974 e do habitual renascimento radiofónico de velhas canções de protesto da autoria de muitos cantautores portugueses, surgimos esta semana com a análise de uma canção que pretende colocar em contraposição o contributo de José Cid no contexto da música portuguesa no pós 25 de Abril, comparando as suas canções com aquelas que os cantautores lançavam para o mercado discográfico da altura. Sem desprimor por nomes como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, José Mário Branco e outros tantos (para falar só dos mais conhecidos) José Cid, ora enquanto membro do Quarteto 1111, ora a solo, cedo se aventurou em sonoridades até então inexploradas na música portuguesa, embora nunca tivesse conseguido, pelo menos até ao 25 de Abril, transpor para a opinião pública uma ideia geral de oposição ao regime ditatorial da época. Bem pelo contrário; a popularidade de José Cid, após a transformação do Quarteto 1111 nos Green Windows, aliada à sua participação em festivais da canção (eventos nos quais as letras das canções eram cuidadosamente passadas a pente fino pelos "homens de lápis azul") poderá ter contribuído para um sentimento, totalmente errado, de que José Cid era um conservador e um conformista nato. Nada de mais errado se poderia pensar! Desde logo, porque o próprio Quarteto 1111 teve discos que foram proibidos de imediato pela Comissão de Censura; por outro lado, no contexto da época (finais dos anos 60), a divulgação de discos de Rock em Portugal era quase inexistente e o conservadorismo da nossa sociedade apenas tolerava discos de yeh yeh, onde significado das palavras pouco importava para quem os escutava, contrariamente ao som psicadélico do Quarteto 1111, de audição não facilmente tolerável pelos mais conservadores. No entanto, na nossa opinião, o principal motivo para que o nome de José Cid não estivesse conotado à musica de cariz mais social dos anos 70, foi o facto de o próprio Artista nunca ter pretendido associar as suas composições a qualquer movimento político, compondo sempre de forma descomprometida em relação a qualquer rótulo, fosse ele de esquerda ou de direita.
Numa outra perspectiva, já no âmbito do pós 25 de Abril, proliferaram no contexto músical português toda a espécie de estilos musicais associados ao conçonetismo de cariz político e de intervenção. Aliás, grande percentagem do chamado canto de intervenção teve o seu auge no pós 25 de Abril, repartido entre os anos de 1974 e 1977, não só através da balada/canção, como também pelo fado (principalmente o humorístico) musica ligeira, marchas militares e, sobretudo, grupos corais. Tal como os outros, José Cid, não fugiu à regra e compôs entre 1974 e 1975 algumas canções que ilustravam bem a nova mudança na sociedade portuguesa; sem esquecer os arranjos da canção de Ermelinda Duarte “ Somos livres” entregues a José Cid, da sua autoria resultou também o single “ Quadras Populares” ( ainda com os Green Windows), “ A festa do Zé” ( em torno do fim da Guerra na Guiné Bissau) e, antes de todas essas canções, duas das mais brilhantes composições de José Cid dessa época: "Portugal É..." e “ No tempo em que o Toninho lanchava com os amigos na Pastelaria S. Bento”, gravadas em 1975, as quais compunham o single “ Portugal É” ( Decca SPN 182).
Ao lançar para o mercado "Portugal É...", em Março de 1975, José Cid não apela a um patriotismo descontrolado, nem a uma critica desgovernada aos sucessivos governos de transição da altura, nem tão pouco utiliza a canção como arma de propaganda política. Tal como outros também o fizeram, José Cid apela antes a uma unidade nacional em torno de um pais ainda por inventar, em plena construção, como bem ilustram os seguintes versos “ Portugal é toda a gente/que tu queiras abraçar/A quem falar de liberdade/sem a enganar/ Portugal, uma criança/ a sorrir na madrugada/Uma caminho sem fronteiras/ que te aguarda.” No entanto, se facilmente se pode concordar que a temática desta canção, para a época, não deixava de se considerar relativamente recorrente, ou mesmo banal, o mesmo já não se poderá dizer em relação à instrumentalização de "Portugal É...." arborizada numa sonoridade vanguardista, simultaneamente fresca e inovadora. Sem entrar em pretensões demasiado elevadas, podemos arriscar em dizer que se contam pelos dedos, os cantautores que se socorreram de sintetizadores e de mellotrons para arranjarem as suas canções. E é nesta vertente, de inovação, que José Cid sempre se destacou, não só neste tema, bem como nos temas de cariz mais intervencionista do pré 25 de Abril, que mais para a frente analisaremos. Por essa razão, "Portugal É..." não se limita a ser apenas mais uma excelente canção de José Cid; a sonoridade a ela associada é também o prenúncio para um novo caminho sem fronteiras na música portuguesa, que teve em José Cid um dos seus primeiros impulsionadores.
Ainda assim, "Portugal É ..." trata-se de uma das muitas canções de José Cid que nunca chegou a ser incluída em nenhum dos seus discos a solo. No entanto, para além de disponível em vinil no homónimo single de 1975, na colectânea da EMI VC “ Antologia da Música Popular Portuguesa José Cid “ ( 1977, EMI 11 C 074 40532) e na colectânea “ O melhor de “ ( 1990, EMI – VC 7946481 – 2 LP, também CD), encontra-se também disponível para audição em formato CD nas colectâneas “ Grandes Êxitos de” ( 2006, EMI 0946 374097 25 – sucedâneo da anterior colectânea “A rosa que te dei” das Edições Caravela) e, com excelente qualidade de sonora, na recente colectânea da etiqueta IPLAY, sob licença da Valentim de Carvalho “ O melhor de José Cid” ( 2008, IPV1391 2). Aconselhamos vivamente a sua audição.
Numa outra perspectiva, já no âmbito do pós 25 de Abril, proliferaram no contexto músical português toda a espécie de estilos musicais associados ao conçonetismo de cariz político e de intervenção. Aliás, grande percentagem do chamado canto de intervenção teve o seu auge no pós 25 de Abril, repartido entre os anos de 1974 e 1977, não só através da balada/canção, como também pelo fado (principalmente o humorístico) musica ligeira, marchas militares e, sobretudo, grupos corais. Tal como os outros, José Cid, não fugiu à regra e compôs entre 1974 e 1975 algumas canções que ilustravam bem a nova mudança na sociedade portuguesa; sem esquecer os arranjos da canção de Ermelinda Duarte “ Somos livres” entregues a José Cid, da sua autoria resultou também o single “ Quadras Populares” ( ainda com os Green Windows), “ A festa do Zé” ( em torno do fim da Guerra na Guiné Bissau) e, antes de todas essas canções, duas das mais brilhantes composições de José Cid dessa época: "Portugal É..." e “ No tempo em que o Toninho lanchava com os amigos na Pastelaria S. Bento”, gravadas em 1975, as quais compunham o single “ Portugal É” ( Decca SPN 182).
Ao lançar para o mercado "Portugal É...", em Março de 1975, José Cid não apela a um patriotismo descontrolado, nem a uma critica desgovernada aos sucessivos governos de transição da altura, nem tão pouco utiliza a canção como arma de propaganda política. Tal como outros também o fizeram, José Cid apela antes a uma unidade nacional em torno de um pais ainda por inventar, em plena construção, como bem ilustram os seguintes versos “ Portugal é toda a gente/que tu queiras abraçar/A quem falar de liberdade/sem a enganar/ Portugal, uma criança/ a sorrir na madrugada/Uma caminho sem fronteiras/ que te aguarda.” No entanto, se facilmente se pode concordar que a temática desta canção, para a época, não deixava de se considerar relativamente recorrente, ou mesmo banal, o mesmo já não se poderá dizer em relação à instrumentalização de "Portugal É...." arborizada numa sonoridade vanguardista, simultaneamente fresca e inovadora. Sem entrar em pretensões demasiado elevadas, podemos arriscar em dizer que se contam pelos dedos, os cantautores que se socorreram de sintetizadores e de mellotrons para arranjarem as suas canções. E é nesta vertente, de inovação, que José Cid sempre se destacou, não só neste tema, bem como nos temas de cariz mais intervencionista do pré 25 de Abril, que mais para a frente analisaremos. Por essa razão, "Portugal É..." não se limita a ser apenas mais uma excelente canção de José Cid; a sonoridade a ela associada é também o prenúncio para um novo caminho sem fronteiras na música portuguesa, que teve em José Cid um dos seus primeiros impulsionadores.
Ainda assim, "Portugal É ..." trata-se de uma das muitas canções de José Cid que nunca chegou a ser incluída em nenhum dos seus discos a solo. No entanto, para além de disponível em vinil no homónimo single de 1975, na colectânea da EMI VC “ Antologia da Música Popular Portuguesa José Cid “ ( 1977, EMI 11 C 074 40532) e na colectânea “ O melhor de “ ( 1990, EMI – VC 7946481 – 2 LP, também CD), encontra-se também disponível para audição em formato CD nas colectâneas “ Grandes Êxitos de” ( 2006, EMI 0946 374097 25 – sucedâneo da anterior colectânea “A rosa que te dei” das Edições Caravela) e, com excelente qualidade de sonora, na recente colectânea da etiqueta IPLAY, sob licença da Valentim de Carvalho “ O melhor de José Cid” ( 2008, IPV1391 2). Aconselhamos vivamente a sua audição.
Clique no play para ouvir um excerto da canção
2 comentários:
Belo texto! E justíssima recordação de um grande single! Tal como José Cid, também António Pinho e Nuno Rodriguesa (da Banda do Casaco) "sofriam" do mesmo mal de serem olhados de lado pelas supostas mentes bem pensantes de então por "não se definirem politicamente"... Curiosamente, tanto no caso de Cid como no de Pinho e Rodrigues estamos perante figuras maiores da música portuguesa... Dá que pensar...
Tens razão... o verso " mas não trago conselhos, seja de quem for" diz tudo. José Cid, manifesta sem duvida uma posição neutral, perante os movimentos politicos ( inevitáveis para a época), estando, sem duvida, mais interessado, nos movimentos musicais. Outras lutas...
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