domingo, 7 de dezembro de 2008

Gabriela Cravo e Canela

E estamos de regresso… com o objectivo de revelar um pouco mais do lado menos conhecido de José Cid, não fosse a canção escolhida para hoje pertencente a um dos discos mais raros e procurados da música popular portuguesa. Referimo-nos ao primeiro disco a solo de José Cid, simplesmente “José Cid” (Columbia/VC, 1971) 8E 062 – 40228), também conhecido como o “álbum da Palha” ( assim designado devido ao facto de na capa do disco José Cid aparecer vestido de palha).
Temos consciência de que muitos leitores nos acusarão de sermos muito repetitivos e de batermos constantemente na mesma tecla. No entanto, também não podemos deixar de referir novamente que José Cid no seu primeiro disco a solo não deixou de primar também pela inovação e novidade: conforme o próprio Artista refere em entrevista recente, quando apareceram as máquinas de gravação de oito pistas José Cid foi desde logo o primeiro músico a utilizá-las, tendo, inclusivé, gravado o álbum sozinho, tocando os instrumentos todos (órgão, baixo, guitarras e pianos) incluindo os coros. Quando o disco já estava pronto, na Valentim de Carvalho, Pedro Osório ouviu o trabalho e disse que queria colocar ainda um arranjo de orquestra nas canções, chegando-se assim ao resultado final do disco.
Quando “Palha” saiu para o mercado em Maio de 1971, José Cid era já a figura dominante do Quarteto 1111, tendo este disco seguido em parte a linha do primeiro albúm do Quarteto, editado um ano antes, em Janeiro de 1970. Contudo, simultaneamente, já se nota neste primeiro disco a solo de José uma certa dualidade musical, ou se quiserem, um toque de diferença em relação às anteriores canções do Quarteto. Musicalmente falando, podemos arriscar em dizer que este disco segue duas vertentes: uma vertente mais popular, numa onda de folk music, e uma vertente de experimentalismo com a utilização de sons electro-acústicos, em temas como “Lisboa Ano 3000” ou “ Olá Vampiro Bom” no qual José Cid utiliza muito o órgão eléctrico para explorar efeitos sonoros (e de onde se encontra já alguma reminiscência de algum rock espacial, mais tarde tão bem explorado no álbum “10000 mil anos depois entre Vénus e Marte”).
Cinco dos temas que compõem este disco podem ser encontrados na colectânea da Valentim de Carvalho “ O melhor de José Cid”. No entanto, os restantes 7 continuam por ver a luz do dia em edição de CD, facto que tem alimentado a procura e a especulação de preços de venda do álbum original em vinil “Palha” em leilões e sites especializados de música. Da nossa parte, e porque nos parece justo para quem não conheça, iremos deixar aqui um excerto de um dos temas menos conhecidos do disco: Gabriela, Cravo e Canela, inspirado na obra de Jorge Amado.
Ironicamente, pese embora o romance de Jorge Amado já fosse um sucesso há décadas ao tempo em que José Cid compôs esse tema, não deixa de ser também interessante referir que já em 1971, muitos anos antes da exibição da telenovela com o mesmo nome em Portugal (que em muito contribuiu para a leitura posterior do livro) José Cid canta sobre um romance que só mais tarde é que vem a ser (re)conhecido em Portugal. ( Não se passa o mesmo com José Cid ?)
Não nos iremos alongar na abordagem da canção escolhida para hoje. O refrão e a entoação que José Cid dá ao mesmo são apaixonantes e o resumo da história de Gabriela é desde logo anunciado nos primeiros segundos do tema : “Oh! que fizeste, sultão, da minha alegre menina? é a pergunta repetida mais do que uma vez por José Cid nesta canção. Gabriela retirada da sua pobre terra natal para, por fim, conhecer toda a riqueza, os vestidos de diamantes, o estatuto de rainha, em troca da ilusão do amor sendo,mais tarde,devolvida à sua terra, de volta aos seus vestidos de chita e ao seu inocente pensar, aos seus suspiros no leito e à sua ânsia de amar, longe das jóias e das ilusões do trono em que viveu. A conclusão do tema é bem clara: Jorge Amado é que tinha razão: apesar de tudo o que tentaram fazer de Gabriela, o certo é que, como conclui José Cid: A verdadeira Gabriela, é feita de cravo e canela !
Aqui fica um (grande) excerto da canção, retirada directamente do vinil.
(Obrigado, José Mário! )




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Clique no Play para ouvir um excerto da canção



Capa do disco retirada da colecção particular do autor

9 comentários:

Anónimo disse...

caro joao pedro
é uma lástima que a discografia completa do jose cid não esteja disponivel em cd. mesmo algumas edições em cd estão indefinidamente esgotadas (como é o caso de "vendedor de sonhos" por exemplo) o que não se compreende. há tanta coisa a descobrir em jose cid, isto já para não falar do quarteto 1111 que padece do mesmo mal (ausência de edição em cd da totalidade da sua obra). ainda sobre o "fato de palha", existe uma edição brasileira com a mesma capa mas as canções são completamente diferentes (edição arlequim arlp-4034) o que pode levar a confusões. se me pedissem para votar numa obra do cid parav ser imediatamente editada em cd eu diria: camões, as descobertas..e nós" que é muitissimo bom e que conta com a participação por exemplo de jorge palma, antonio pinto basto, carlos do carmo e paulo bragança.
um abraço

jose mario
joebarbosa@sapo.pt

João Pedro disse...

É verdade,o José Cid, não nos deixa de surpreender. Em relação ao disco " Camões,as descobertas e Nós", a julgar pela descrição da Fonoteca de Lisboa, parece haver edição em cd.
Resp. Artística:
Arranjos e produção de José Cid
Elenco:
Francisco Martins, viola 12 cordas solo baixo; Francisco Cardoso, bateria e percussões; José Cid, sintetizadores, cítara indiana e coros; João Veiga, viola acústica na faixa 2; José Luís Nobre Costa, guitarra portuguesa na faixa 2; Tó da Braguesa, braguesa e flauta na faixa 6; Praia Lusitania na faixa 7
Publicação:
Portugal : Polygram, 1992

ISRC:
Mercury: 512638-2 Polygram

Descrição Física: 1 disco (CD) (ca. 55 min.) : stereo; 12 cm + folheto


Dos anos 90, é sem dúvida o meu preferido e talvez o mais belo de todos. Simplesmente, sublime !

Anónimo disse...

Além desses sons que poucos conhecem sugeria também posts com imagens e informações de discos raros de que for tendo informação. Como esse disco brasileiro referido mais acima, o single francês do "Portugalx3, Olinda a Cigana" que existe na net, a edição sul-africana ou australiana, etc...

Até para complementar o que existe na net, por exemplo em http://cidfan.no.sapo.pt

Anónimo disse...

orinoco

o mail do site cidfan deve estar desactualizado pois tentei entrar em contacto com eles e vem para trás.
sabes o eamil actualizado ? tenho algumas coisas que lhe podiam ser úteis, nomeadamente capas de discos dificeis de encontrar.

jose mario

joebarbosa@sapo.pt

João Pedro disse...

Boa noite amigos. Obrigado pelos vossos comentários. Pretendo realmente avançar mais no blogue com imagens de discos, mais informação, etc, mas claro, gostava de ter sempre autorização do próprio artista para isso, e com certeza que terei pois vivo aqui paredes meias com a casa dele. Por essa razão, só estou a incluir excertos dos temas e não as canções completas.

Eu próprio já tentei encontrar em contacto com o site Cid fan, a prestar-lhe os meus préstimos pois tenho algumas capas de discos que ele não tem, bem como informação essencial que falta naquele site, mas parece que o email já não está activo. O mesmo se passa no Youtube, onde o administrador desse site costumava colocar videos do José Cid.

Já agora, uma questão que me anda a intrigar : do album " brasileiro", o tema 2 "Partir, voltar", não o encontro em mais lado nenhum para além desse disco. Alguém sabe alguma informação sobre esse tema ? Quando foi gravado ? Pertence a algum EP antigo do Cid ? Ou é um tema gravado só nesse disco ? A canção n.º 3 parece ser uma nova versão do tema " Meu amor" do album Palha.

Do mesmo disco, o tema Gloria, Gloria Aleluia, também me parece ser uma nova versão, com outros arranjos, pois é cerca de 1 minuto mais longa do que a versão que consta da Antologia "oficial" do José Cid.

Pode ser que o Artista nos responda.

Joao Pedro

João Pedro disse...

Já agora, Orinoco, o que tiver do José Cid, que entenda ser interessante conhecer, capas raras, etc ( por exemplo, a versão em espanhol de 20 anos !!) não hesite em entrar em contacto, pois pretendo que este blog seja um blogue sério e não exclusivo de uma única pessoa e conto com a ajuda de todos os interessados.

bissaide disse...

Tanto quanto sei também, os temas "Partir, Voltar", "Liberdade Meu Amor" e "Glória, Glória Aleluia" eram de facto inéditos aquando do lançamento do LP brasileiro da Arlequim. "Partir Voltar" tinha sido cantado antes por Lenita Gentil, enquanto "Liberdade Meu Amor" é uma versão modificada de "Meu Amor", de 1971. Todos os três temas pertenciam ao reportório da VC, pelo que seriam provavelmente outtakes que a editora entendeu licenciar em 1980 à Arlequim para essa edição brasileira.

Anónimo disse...

O que mete nojo neste país é discos da estirpe de um "Palha" estarem com os direitos fechados a sete chaves pelas editoras que não editam nem deixam editar. Sei que os espanhois tentaram editar isto mas foi-lhe pedido uma quantia avultada pelo que ficou tudo na mesma: a estaca zero. Parece quase a especulação do mercado imobiliário. Uma vergonha, mesmo. Este país é uma estrabaria.

Anónimo disse...

A Quem estiver interessado posso arranjar uma gravação em CD-R a partir da ripagem do disco vinyl, do album de José Cid - A Palha (1971) * Desde que me paguem o custo do CD-R virgem, a fotocópia gráfica da capa adaptada para CD e as despesas de correio, eu arranjo isso à borla já que essa edição foi votada ao ostracismo por parte da editora. As canções incluidas no alinhamento desse album são :
Dom Fulano
Lisboa Ano 3000
Não Convém
Meu Amor
Olá Vampiro Bom
Amigos
O Dragão
Nihelile
Gabriela Cravo e Canela
Volkswagen Blue
OBS: Deixem aqui o vosso contacto de e-mail.