sábado, 21 de fevereiro de 2009

Big Brother Joe

Caros leitores, hoje vamos deixar de lado a objectividade que pretendemos manter neste blogue, fazendo, excepcionalmente, uma incursão pelo universo da fantasia para viajarmos até um bar irlandês na companhia dos nossos companheiros de viagem, tendo como meio de transporte a verde paisagem sonora que o tema Big Brother Joe nos oferece. Para isso basta recuarmos até 1980, ano em que José Cid lança para o mercado internacional o seu primeiro disco totalmente gravado em inglês, “My Music” (Orfeu FPAT 6009) meses após a sua participação no Festival da Eurovisão da Canção, na qual conquistou o 7.º lugar, entre 19 participantes.
Na nossa visão muito pessoal sobre o que é uma canção diferente das outras, há uma certeza que há muitos anos vimos tendo: muito mais do que um som que nasce do nada, uma boa composição musical deve trazer sempre consigo uma espécie de cenário auditivo, que nos permita cruzar os instrumentos com a letra da canção e, simultaneamente, entrelaçá-los com a nossa própria imaginação. Assim, se não precisarmos de fazer um grande esforço imaginativo para encontrar cenários mentais através da música que ouvimos, então só poderemos estar perante uma boa canção,que nos transmita mais do que aquilo que estamos a escutar e que nos permita exercitar mais do que um dos nossos sentidos.
O tema que escolhemos para hoje, na nossa opinião, enquadra-se perfeitamente nos cenários auditivos que estamos a traçar. Por mais que tentemos, ao ouvirmos esta canção, só nos conseguimos imaginar na Irlanda, mais o nosso saudoso amigo Big Brother Joe, a beber uma boa caneca de cerveja ou um bom whiskey num pub tradicional, numa roda-viva de extrema animação, onde algumas mulheres, contagiadas com a nossa animação, nos lançam sorrisos do outro lado do bar, enquanto amigos marinheiros se vão juntando à nossa mesa.
Quem estiver mais atento a este tema, ouvirá por certo as pedras de gelo a escorregar para dentro dos copos de whiskey , que se vão enchendo à medida que a animação avança à volta da nossa mesa, contagiando já todo o bar, onde entretanto já todas as restantes pessoas cantam em coro as nossas canções, noite dentro até de manhã, acompanhados ao acordeão por José Cid, que num registo vocal quase irreconhecível nos vai conduzindo para a nostalgia das grandes amizades que perduram no tempo.
Big Brother Joe, um tema tão especial por ser o nosso preferido deste disco, foi assim, naturalmente, o eleito como tema de apresentação de mais um (!) dos álbuns de José Cid cuja edição em CD ainda não existe. Confessamos que olhamos sempre com desconfiança quando um português se aventura a cantar em inglês, pois a nossa grande paixão pela música portuguesa, leva-nos, por vezes, a tecer comentários mais depreciativos sobre portugueses que cantam em inglês. Se por um lado sabemos que não é fácil compor em português, por outro lado também temos noção de que não pode ser qualquer um a aventurar-se a cantar em inglês. Não pretendemos idolatrar José Cid neste blogue, pois nós próprios conhecemos uma ou outra canção de José Cid cantada em inglês que não apreciamos tanto. No entanto, o disco My Music é todo ele uma excepção à regra e logo à primeira audição tivemos que dar o braço a torcer: estamos na presença de um músico que interpreta como ninguém aquilo que melhor soube fazer até aos anos 80: música rock, de influência anglo-saxónica, toda ela tão presente neste disco.
Talvez este tema não seja o ideal para mostrar ao ouvinte o perfeito à vontade de José Cid a cantar com feeling natural os temas pop rock que constituem este albúm, na lingua materna dos seus ídolos de juventude. Parece-nos, no entanto, o mais diferente e camaleónico de todos. Se José Cid não tivesse nascido com inclinação natural para a música rock, jamais conseguiria gravar um disco em inglês tão bem gravado, disso não temos quaisquer dúvidas.
Há, no entanto, uma outra personagem que temos que referir na mensagem de hoje: Mike Sergeant, guitarrista, cantor, ex-membro dos Greenwindows ,companheiro de José Cid nas lides musicais, que assinou os arranjos de todos os temas deste disco, contribuindo ainda com o original da sua autoria “ Sycamore Square”. (Aliás, fica já a promessa que mais para a frente, dedicaremos uma mensagem desde blogue toda ele dedicada a Mike Sergeant). Sem ele este álbum de José Cid, não seria o mesmo.
Infelizmente, estamos perante um disco pouco conhecido e do qual também não temos muita informação. Sabemos, no entanto, que a história deste disco não teria sido a mesma se José Cid tivesse ganho o Festival da Eurovisão da Canção desse ano, pois foi gravado numa tentativa de internacionalização de José Cid, toda ela pensada no sucesso que dele se esperava na final do Festival da Canção, com o tema “
Um Grande, Grande Amor.”
Apesar de tudo, José Cid conseguiu a extraordinária faceta, só ao alcance de meia dúzia de cantores portugueses, de ter tido sucesso no estrangeiro, cantando em português. Razão tinha José Cid ao dizer que “se Elton John tivesse nascido na Chamusca não seria tão conhecido como ele”. Este disco comprova-o, pois o pior deste disco consegue ser infinitamente superior ao (supostamente) melhor da música estrangeira que invade as playlists das rádios portuguesas.
O leitor que nos perdoe os nossos devaneios mas o whiskey que esta música nos oferece a isso nos conduziu.

Clique no play para ouvir um excerto da canção

13 comentários:

bissaide disse...

"My Music" é um excelente disco, e é de facto uma pena ser tão mal conhecido... Logo "I Kissed Her Good-bye", a abrir, dá o mote para meia-hora do melhor pop rock feito por um português e cantado em inglês. O tema "Big Brother Joe" tinha sido originalmente gravado por Edmundo Falé em 1972, com acompanhamento do Quarteto 1111, numa versão um pouco mais "contida" (mas com o vozeirão de Falé).

João Pedro disse...

Ora lá está um single que já procuro há bastante tempo, do Edmundo Falé. Big Brother Joe foi também gravado pelos Greenwindows mas com Mike Sergeant nas vozes, tal como Count James ( versão de A lenda de El rei D. Sebastião). My music é na verdade um disco cheio de curiosidades, que pretendo explorar mais vezes neste blogue.

bissaide disse...

"Big Brother Joe" pelos Green Windows é que não conheço. Em que disco surge? "Count James" e "Another Time To Live, Another Time To Die" surgem no LP "No Dia em Que o Rei Fez Anos", com Mike Sergeant nas vozes, e são duas excelentes versões.

João Pedro disse...

Pois, tem razão, é impossivel conhecer porque realmente nao existe o tema Big brother Joe pelos Greenwindows. Equivoquei-me e fiz confusão com o tema "Another time to live, another time to die". Count James, por José Cid, na minha opinião continua a ser a versão imbativel.

bissaide disse...

Na versão de "My Music", portanto. Mas a do LP "No Dia em Que o Rei Fez Anos" tem um sabor especial, próximo do som dos Eagles da altura - e eu até nem sou apreciador do grupo americano. Ainda por causa dos Green Windows, falaram-me há dias de haver um single português com a versão inglesa de "Vinte Anos", algo que nunca vi mas que faz todo o sentido que exista. Tenho é a edição inglesa, mas promocional e sem capa.

João Pedro disse...

Eu tenho um single dos greenwindows, com o tema "Twenty Years/ The Story of a man", Decca SPN 151D, embora pense que seja este o single que toda a gente tem. Realmente na capa do single pode ler-se Versão Portuguesa. No entanto, os temas são todos em português. Na versão inglesa, os temas são em inglês ?

Quer que lhe envie digitalização da capa ?

Já agora tem o Ep da Tonicha com o Quarteto e o EP " Tonicha canta canções de José Cid" ?.

Obrigado

João Pedro disse...

Ouvi falar foi de uma versão em espanhol de Vinte anos, que supostamente fez com que Julio Iglésias convidasse o José Cid para ser seu produtor e compositor em exclusivo. Ouviu falar disso ?

bissaide disse...

Sim, o single Decca SPN 151 é o normal, com as versões em português (apesar de os títulos surgirem em inglês, pois). Penso que as versões inglesas poderão ser o single Decca SPN 152, mas de facto nunca o vi. Na edição inglesa, os temas são cantados em inglês. A referência do single promocional que tenho é Decca F 13427. Tenho o EP da Tonicha "Tonicha Canta Composições de José Cid", sim. Quanto à versão espanhola de "Vinte Anos", chama-se "Vivamos Nuestro Amor" e está à venda por 2 euros aqui: http://www.todocoleccion.net/green-windows-vivamos-nuestro-amor-super-oferta-7~x11103422

João Pedro disse...

Muito obrigado pelo link. Entretanto, já estou a escutar a canção no meu computador! A internet é sem dúvida um mundo de possibilidades inesgotáveis. Digo-lhe que se não me tivesse dito que a canção se chamava " Vivamos Nuestro Amor" jamais chegaria lá, pois tenho procurado na internet pelo tema " Vinte Años", veja só... Em relação aos trabalhos/parceiras e colaborações de José Cid e Quarteto com 1111, pretendo mais para a frente no blogue, divulgar todas essas colaborações, pelo menos das que tenho conhecimento. Muito obrigado, uma vez mais pelos seus importantes esclarecimentos.

glb disse...

http://cidfan.no.sapo.pt/discografia_solo80.htm

Tema "Springtime of my life" gravado em Los Angeles para a editora Family com produção de Mike Gold. Também já ouvi uma entrevista em que ele falava num pais da commonwealth (africa do sul ou canadá) e de estar a gravar num disco ao lado da Grace Jones e de ter sido editado pela editora dos Abba- a Polar.

Mas até se pode dar o caso, fiquei sempre com essa dúvida, do disco em inglês poder ter sido gravado antes do Festival. Eventualmente após o Festival de Tokio ou da participação na OTI. E parece que editou em França através da Vogue, ainda em 1979: http://www.discogs.com/Jos%C3%A9-Cid-Portugal-Portugal-Portugal-Olinda-A-Cigana/release/1309631

João Pedro disse...

Da "Polar",que eu tenha conhecimento, só conheço o single " Um grande, grande amor/ Barbara. Não conheco nenhum LP. Em relação às edições francesas ( Vogue): não quero tirar o efeito surpresa deste blogue, mas esteja atento às próximas mensagens. Um abraço. J.P.

Anónimo disse...

(será que disse versão inglaterra pelo facto de ter escrito "Twenty Years"?)

comentário de Daniel Bacelar no blog Guedelhudos (post sobre Marie Myriam)

No outro dia estava a dar uma volta nas minhas velharias (singles)e vim a descobrir a versão em inglês pelos Greenwindows (zé cid) dos "20 anos" inteligentemente aproveitado como tema da FABULOSA série da RTP "Conta-me como foi".(a versão portuguesa,claro está).

João Pedro disse...

Confirmo que a o single versão inglesa de 20 anos , tem de facto a referência Decca P-F 13427 D. No entanto a versão que entretanto arranjei, não é promocional.
E em tudo igual à capa da versão portuguesa, com a diferença de dizer Versão Inglesa. A tua versão diz Versão Inglesa ou " English Version" ?